segunda-feira, 11 de maio de 2020

Solidão e Liberdade

Nada mais livre que o mar! 

Vai e volta quando quer... ao sabor de uma força invisível e superior: a Lua.

Pela energia agitada do vento, pela roda em permanente movimento das altas e das baixas pressões, pela leveza de cada gota de água e pelas forças da natureza,  ele mexe e avança... recua e volta aos nossos pés. 

Nunca se deixando apanhar, fugindo depois de um momento de prazer, regressa na próxima onda, para  fugir logo a seguir, para longe, rumo à origem da sua liberdade.

No fundo ou no ar, de onde quer que ela venha essa força que o move, o mar é livre, ou assim nos parece esse infinito azul, que se ama e não se tem.

A sua sabedoria é sibilina, de manha subreptícia, movido por forças que se movem na sombra da clandestinidade, invisíveis. Mesmo que a ciência as descodifique, para uma alma simples e um olhar romântico, o mar está lá para nos deslumbrar e para nos fazer sentir livres.
Misterioso e sedutor, só nos mostra o que tem de belo, mas as forças que o movem são obscuras.

Afinal, há uma liberdade aparente, linda de se ver... linda e que apetece seguir, embalada pela sua música, pela dança das ondas ou, simplesmente, no som das águas das ondas chocando na falésia ou deslizando com alegre barulho na suave areia.

Será da beleza deste azul que gostamos? Ou o que nos atrai é a noção de infinitude e de liberdade? 
Porque quase todos gostamos do mar.

Eu gosto por tudo isso, mas sobretudo pela sensação de que é um espaço infinito de possibilidades e de liberdade. Um lugar sem limites, onde posso ser eu. Eu com a minha solidão, sou mais eu... se estiver em frente do mar.


Quem não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre (...) Cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exacta do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.
SCHOPENHAEUR, A.

Eu estou só e olho o mar. Quando posso e paro em contemplação, ele lembra-me a minha solidão voluntário. Eu, o mar e a solidão - um triângulo de liberdade!
Porque se a solidão não for de abandono, se não for uma contingência, nem for um resultado traumático de falta de uma comunidade de afetos, então a solidão escolhida é uma caminho de alegria e um espaço ilimitado de opções, de futuros, de alegrias, de novos amigos... de novos mares.
Se a solidão for uma escolha, uma via de luta pela dignidade pessoal, helás!... que se vá por aí - mais vale só que mal acompanhada, lá diz o povo.
Quer se fique de pé olhando o mar, de cabeça erguida e digno orgulho no rosto, quer se desista de tudo e se mergulhe nele para sempre, o que importa é que a decisão seja nossa. Que a escolha não tenha limites, nem preconceitos, que seja lúcida... e corajosa, porque a primeira onda apanha-nos de chapão, enrola o corpo, trucida a alma e dá cabo da gente... se se tentar ir ao mar sem cautelas. 
E dói, ele há chapões que doem muito.
Á segunda, ou se tenta nadar para terra à procura de bom porto ou se naufraga de vez.
Qualquer que seja a escolha, que seja livre, alegre e forte como o mar azul que eu amo.



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