quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Há dias assim …

 


Há dias assim… em que tudo parece belo e transparente. Há dias em que se diz: vale a pena viver, viver bem, saborear até à última gota de sol , porque o mar estará lá sempre… se não for radioso e azul, será cinzento e revolto , mas permanecerá para além de nós.

E o tempo que nos resta - numa idade em que somos passageiros sorridentes e saudáveis do simpático Navegante - é tão pouco, que importa usufruir sofregamente da vida, criar,  amar , espalhar alegria à nossa volta, cuidar de quem no quer bem, para ser feliz … 

E se o fizermos será essencialmente por nós ( ou seja por mim mesma , que é quem conta para este efeito).


Transparente, solar, lunar, sem nada a esconder e no entanto com tantos mistérios de baixo de água. 

Tomara que eu fosse capaz de ver, na alma de quem quero, tamanha transparência, incluindo as pedras feias e os azuis bonitos.

Tomara ter alguém que me entenda, que veja a beleza onde eu a encontro ou, pelo menos, que discorde das minhas visões. Alguém que me abra os olhos e diga que estou enganada, que não vale a pena ter sonhos para evitar desilusões. Mesmo discordando, que me diga com afecto e pedagogia que o mundo é um lugar vulgar, ao qual se deve ser indiferente, um lugar de passagem e que o mar - parecendo maravilhoso - é apenas um berloque colorido que serve de pano de fundo a um momento agradável, como tomar uma cervejola com uma amiga ou um amigo.

Para quem assim pensa, a companhia é a única emoção que daí vem, os sentimentos são parolice romântica, o objeto da companhia é mais ou menos indiferenciado… mais um berloque na cadeira ao lado - uma conversa leve que anime a bebida, o conforto humano ligeiro, livre e solto… nada de muito importante, portanto. Se possível, saborear o sol e ar azul deste verão-laranja, com poucas palavras. Tudo o que for complexo é dispensável… 

O silêncio, primo da solidão transitória, pode ser a melhor das companhias. A solidão para algumas pessoas não é fonte de angústia ou de insegurança. É um bem. Vive-se, come-se, dorme-se e tenta-se ter saúde para manter a rotina. Regar as flores, já não com muito empenho, nem calor… com uma frescura seca .. porque os tempos estão difíceis, de preferência sem incêndios. (Que chatice)!!! Paixões ardentes nem pensar, os bombeiros andam cansados e já ninguém liga a isso. O melhor mesmo é ser comedido, calado, condescendente, pouco exigente e nada dependente. 

Quem pensa assim, parece um pouquinho egoista, privilegia o seu conforto solitário, grita: Abaixo as prisões e os monopólios! Quanto menor o empenho e maior a diversificação e descompromisso, melhor.

Dividir para reinar!

O compromisso é traumático, dita a falta de liberdade. A baralhação de papéis e horários cria um terreno de permanente susto. Para quem está de fora e pisa território desconhecido, o chão poderá estar minado, haver algo que pode explodir e alguém morrer. Serei eu?

Paz precisa-se… tal como de verão, de mar azul, para banhos quentes e abraços escaldantes (ou mornos !!!) beijos com sabor a roubados , abraços forçados, que podem parecer terem ser desviados da sua rota preferida em migração para outros continentes e oceanos. Nalguns é inverno, eu sei.

Era tão bom que os dias fossem sempre lindos, como uma janela de princesa, aberta sobre o lago, onde tudo parece em paz …



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