- A Vida sexual
- A Vida afectiva
Qual castelo amuralhado, a nossa vida deve assentar em algo de sólido.
Talvez a palavra “deve” esteja a mais - reformulo: era bom que tudo fosse sólido e seguro, mas não é. A mais das vezes, é uma frágil casquinha de noz, flutuando ao sabor da corrente.
Refletindo sobre o assunto - e apesar de não viver, no presente, uma relação em que o termo “conjugalidade” se aplique na íntegra, achei interessante e pertinente aquela arrumação em pilares.
Claro que quando se fazem classificações e tentativas de sistematização de conceitos complexos, sob o nome de palavras simples, corre-se o risco de deixar de fora coisas importantes. Não obstante, com um pouco de imaginação é possível arrumar o que importa nos três pilares identificados.
Com o que aprendi por mim mesma e observando as relações dos que me são próximos ou daqueles que foram passando pela minha vida, colecionam-se saberes e experiências nossas ou alheias sobre este universo tão rico e complexo que é a nossa felicidade interior, quando esta assenta num parceiro, numa parceira ou em múltiplos afectos, que dão sabor à vida. Aquelas coisas que se estiverem bem arrumadinhas em cada um dos três pilares fazem de nós a perfeição perfeita, uma divindade da felicidade absoluta, uma enormidade romântica inexistente … mas que a fantasia e o sonho não desistem de nos fazer pensar que são possíveis de alcançar.
Deve ser sinal de infantilidade, ainda acreditar … acreditar em castelos duradouros e inexpugnáveis, habitados por princesas lindas e amadas.
Mas então é assim: se os pilares fossem perfeitinhos, construídos sobre pedras sólidas, direitas e bem posicionadas, se o arquiteto fosse um gênio e eu uma princesa, cada um dos pilares teria a seguinte composição:
- Solidariedade - cumplicidade e intimidade total, o que implica transparente gosto em ajudar o outro (ou outros), privilegiar o interesse alheio, estar atento aos gostos, antecipar desejos … ser uma espécie de gueixa moderna. Pronta para ajudar na doença, no amor, nos desaires da vida, nos dias de sol e de chuva. Pronta para usufruir em conjunto os prazeres que se sabem prazeirosos e comuns, e também, respeitar os momentos em que os gostos próprios são diferentes. Há alturas que ditam a necessidade de descanso, de afastamento ou de solidão transitória (exemplo mais trivial é deixar ver um jogo de futebol, sem interromper, nem mandar bojardas, se não se percebe nada do assunto).
Solidariedade é também reconhecer a necessidade de espaço próprio do outro.
Mas é, sobretudo, garantir que a solidariedade funciona igualmente para ambas as partes - o que um dá, é suposto o outro retribuir (em espécie e tempos distintos). Não se trata de uma contabilidade exata e pontual, mas de um compromisso permanente de entre-ajuda, que deve funcionar à medida das necessidades e possibilidades casuísticas.
É que o desejo - que mora na cabeça e não numa zona algures da cintura para baixo - se manifesta de muitas maneiras: desde ter prazer em tirar a lingerie sexy (de preferência!) e ficar a olhar, em dar um beijo hollywoodesco no banco de trás do carro… passando por muita pele, muito creme, muita masssagem, muito lambe-lambe e, sobretudo, por muita risada relativamente a isto tudo.
- Vida afectiva: para um homem chegar a esta lição é quase tão difícil quanto tirar um MBA numa universidade estrangeira, daquelas muito caras em que as aulas são todas em japonês. Poucos estarão à altura. O pilar, tão simples para uma mulher apaixonada, é uma tragédia para o seu parceiro (que ficou pela segunda classe mal tirada) e se julga um doutor.
Claro que há exceções - homens raros e especialmente sensíveis para perceber esta matéria. Homens que gostam de beijos e de abraços, com a pessoa amada, de afagos com quem querem bem, mesmo sem estarem estupidamente apaixonados, que gostam de conversas doces, etc. etc... tantos e tantos carinhos sem terem como objetivo único e imediato o "salto para a cueca".
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