sábado, 3 de setembro de 2022

Os Três Pilares

Li algures que os três pilares de uma boa conjugalidade são:

  - A Solidariedade

  - A Vida sexual

  - A Vida afectiva

Qual castelo amuralhado, a nossa vida deve assentar em algo de sólido.

Talvez a palavra “deve” esteja a mais - reformulo: era bom que tudo fosse sólido e seguro, mas não é. A mais das vezes, é uma frágil casquinha de noz, flutuando ao sabor da corrente.

Refletindo sobre o assunto - e apesar de não viver, no presente, uma relação em que o termo “conjugalidade” se aplique na íntegra, achei interessante e pertinente aquela arrumação em pilares.

Claro que quando se fazem classificações e tentativas de sistematização de conceitos complexos, sob o nome de palavras simples, corre-se o risco de deixar de fora coisas importantes. Não obstante, com um pouco de imaginação é possível arrumar o que importa nos três pilares identificados.

Com o que aprendi por mim mesma e observando as relações dos que me são próximos ou daqueles que foram passando pela minha vida, colecionam-se saberes e experiências nossas ou alheias sobre este universo tão rico e complexo que é a nossa felicidade interior, quando esta assenta num parceiro, numa parceira ou em múltiplos afectos, que dão sabor à vida. Aquelas coisas que se estiverem bem arrumadinhas em cada um dos três pilares fazem de nós a perfeição perfeita, uma divindade da felicidade absoluta, uma enormidade romântica inexistente … mas que a fantasia e o sonho não desistem de nos fazer pensar que são possíveis de alcançar. 

Deve ser sinal de infantilidade, ainda acreditar … acreditar em castelos duradouros e inexpugnáveis, habitados por princesas lindas e amadas.

Mas então é assim: se os pilares fossem perfeitinhos, construídos sobre pedras sólidas, direitas e bem posicionadas, se o arquiteto fosse um gênio e eu uma princesa, cada um dos pilares teria a seguinte composição:

- Solidariedade - cumplicidade e intimidade total, o que implica transparente gosto em ajudar o outro (ou outros), privilegiar o interesse alheio, estar atento aos gostos, antecipar desejos … ser uma espécie de gueixa moderna. Pronta para ajudar na doença, no amor, nos desaires da vida, nos dias de sol e de chuva. Pronta para usufruir em conjunto os prazeres que se sabem prazeirosos e comuns, e também, respeitar os momentos em que os gostos próprios são diferentes. Há alturas que ditam a necessidade de descanso, de afastamento ou de solidão transitória (exemplo mais trivial é deixar ver um jogo de futebol, sem interromper, nem mandar bojardas, se não se percebe nada do assunto).

Solidariedade é também reconhecer a necessidade de espaço próprio do outro.

Mas é, sobretudo, garantir que a solidariedade funciona igualmente para ambas as partes - o que um dá, é suposto o outro retribuir (em espécie e tempos distintos). Não se trata de uma contabilidade exata e pontual, mas de um compromisso permanente de entre-ajuda, que deve funcionar à medida das necessidades e possibilidades casuísticas.


- Vida sexual: aqui deve-se fazer um reparo muitíssimo importante: Lição número 1 (que só uma mulher é capaz de ensinar) é que a vida sexual “conjugal” não tem de acabar nunca! Um homem, que em geral nestas coisas é mais básico, diria que acaba... um dia.

Deve é adaptar-se às contingências da idade ou da saúde. A Lição número 2 (só disponível para quem passar com aproveitamento na primeira) daria para várias páginas, que não cabem neste blog. Basicamente,  importa reter que o desejo tem de existir sempre, mesmo que o desempenho sexual esmoreça. E quem pensa o contrário, que acha que o seu desejo pela parceira (o) desapareceu ou amainou, aí é porque muito mais coisas já se foram embora.

É que o desejo - que mora na cabeça e não numa zona algures da cintura para baixo - se manifesta de muitas maneiras: desde ter prazer em tirar a lingerie sexy (de preferência!) e ficar a olhar, em dar um beijo hollywoodesco no banco de trás do carro… passando por muita pele, muito creme, muita masssagem, muito lambe-lambe e, sobretudo, por muita risada relativamente a isto tudo.


- Vida afectiva: para um homem chegar a esta lição é quase tão difícil quanto tirar um MBA numa universidade estrangeira, daquelas muito caras em que as aulas são todas em japonês. Poucos estarão à altura. O pilar, tão simples para uma mulher apaixonada, é uma tragédia para o seu parceiro (que ficou pela segunda classe mal tirada) e se julga um doutor.

Claro que há exceções - homens raros e especialmente sensíveis para perceber esta matéria. Homens que gostam de beijos e de abraços, com a pessoa amada, de afagos com quem querem bem, mesmo sem estarem estupidamente apaixonados, que gostam de conversas doces, etc. etc... tantos e tantos carinhos sem terem como objetivo único e imediato o "salto para a cueca".


Uma mulher apaixonada e que gosta de carinho e afecto, tem cara de parvinha, atrasada mental, que só traz complicações para uma relação a dois …
Percebem com muita facilidade, mesmo aquelas que não o sabem expressar com clareza, que uma vida afetiva feliz e partilhada, é uma base de solidez indispensável.


Muitos são os escolhidos e poucos os eleitos... 
Os homens que ainda não conseguiram aprender o valor da vida afetiva para a solidez de uma relação, ainda não foram eleitos ao patamar da solidez gratificante, da relação ou das relações em que vale a pena investir.


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