domingo, 21 de junho de 2020

Coração


Numa casa de madeira, onde um coração em visita, por vezes habita e, por vezes, não ...
está lá um pouco em negação.
É um amor ligeiro, que com mais ou menos força... cola e descola... vai e vem.
Mas gosta e sente-se bem .
Gosta, masoquista, dos nós escuros dos troncos irregulares e duros.
Gosta das imperfeições dos toros,
que tanto se parecem com as desilusões da vida, com as feridas do seu coração que ama, que bate e que chama,
Que sente em queixume, a mentira que se foi escondendo,  de mansinho, num frio e fino escorrer dentro dos seus poros. 
Nesse lugar de alegrias e tristezas, de doces encostos e de fria pancada, vê-se que o coração está mal colado ( e não pregado), que está muito acidentado, ferido e mal tratado.
Sempre à espera de mais ataques, leva penso rápido na bagagem, para estancar a dor surpresa e a certeza que outros amores, colantes e com leveza, esvoaçam na cabana da ligeireza.
Ás vezes, não é bastante, o mal é tal que o penso decola e cai... A dor essa só sai se o conselho da insônia e da noite escura, trouxerem alguma luz de esperança para um amanhã mais claro. Claro não em luz, mas em verdade. 
É o martírio da suspeita, de sensação de que uma faca aguçada e pendente pode estar à espreita, pronta para mais um arranhão... 
Até quando habitará a madeira podre, em fraca cola? Até quando sentirá o calor que vem de fora ... na falsa frágil forma de papel, daquele que se prega e não descola?
Até quando um coração ferido se parte de muito amar e jamais volta a consertar?

Sem comentários:

Enviar um comentário