terça-feira, 29 de outubro de 2019

O Elefante Voador


 
Era uma vez um elefante que voava...

Não, não vou contar a história do Dumbo. Essa ficção, adaptada pela Disney, conta a história de um pequeno elefante de circo de grandes orelhas, ridicularizado por todos. O nome é uma mistura de dumb (burro) com Jumbo, o grande elefante africano que a Europa viu pela primeira vez.
Um dia, Dumbo e o seu único amigo - o rato Timóteo - meteram-se nos copos (mais precisamente beberam o champanhe dos palhaços) e no meio de alucinações e fantasias, Timóteo deu-lhe uma pena mágica e convenceu Dumbo de que ele conseguiria voar. Com a sua auto-estima valorizada - afinal a feieza das suas orelhas tinha alguma utilidade - e seguro pela força do seu amuleto, Dumbo sentiu-se capaz de tudo, mesmo de voar...
Moral da história: a fantasia é capaz de levar muito longe quem nela acredita. É um pouco como a fé e as religiões. Dumbo tinha tudo a seu desfavor - era feio, fazia figura de parvo no circo, não tinha outros amigos para além do rato, quase orfão porque a mãe tinha sido presa, era pesado demais para voar - mas tinha fé na sua pena e... voou.

O meu elefante voador não tem orelhas grandes! É bonzinho, inteligente, não muito bonito, mas é de tal modo querido e simpático que tem muitos amigos ...
A única coisa em comum com o outro é que acredita piamente que pode voar. 
Tem uma mente prodigiosamente fantasista e otimista. Tudo de bom lhe pode acontecer... aliás, acredita que uma parte das coisas boas da vida já lhe aconteceram e, mesmo que o presente lhe ofereça alguns dissabores, crê que o futuro será mais promissor. 

Só lhe falta mesmo é voar, com destino ao castelo dos seus sonhos, onde à sua espera estará o príncipe encantado. 

Mas lá chegará o dia. Tão certo como ganhar a lotaria. Se não for a voar, será de bicicleta ou até de barco a remos. Porque este elefante nada teme e será capaz de grandes coisas - de atravessar o deserto a nado, de pedalar até às nuvens, de transformar um sapo em príncipe, de fazer fogo das frias pedras... 
Tem uma capacidade inaudita para transformar em beleza o mais feio dos desígnios, para transformar em bondade a bruxa mais ruim, para olhar as aversidades como uma benção dos céus, para agradecer aos deuses e aos espíritos as provações que, por ventura, lhe caibam em sorte... enfim, para virar o bico ao prego.

Ás vezes, até gosta de pregar o prego no coração do inimigo... Isso acontece apenas nos dias maus, porque em regra é bonzinho (ou imita muito bem)... os inimigos são incomodados com pequenas alfinetadas tão delicadas que mal se nota a ferida, assim não deixa rasto, nem cria inimizades e consegue ficar na história como um lindo elefante, bondoso e amoroso.

Tem um coração maior que o mundo e um ego que não cabe nele. Tão cheio de fantasia quanto de riscos. Alimenta-se de emoções e de afetos. A medicina julga mesmo que sofre de um qualquer distúrbio metabólico que não sabe explicar: 

   - Quanto menos come, mais engorda! E quanto mais engorda, mais leve fica e mais flutua...

E assim, sobe aos céus! Julga cavalgar romanticamente um cavalo branco, pedala infantilmente uma bicicleta fantástica e dorme aconchegado numa nuvem, sentindo a suavidade de quem o cobre ... 

Paira feliz sobre os amores terrenos (que vê ao longe, mas que ama tremendamente) e, da sua fantástica morada celeste, vendo o mundo a cor-de-rosa, tenta fugir aos escolhos que os caminhos pedregosos da vida a todos colocam.

Será que este feliz elefante voador chegará ao seu destino? Ou continuará a pairar nos céus a fazer figura de dumb?




Sem comentários:

Enviar um comentário