domingo, 3 de dezembro de 2017

Caminho parado


Há dias em que apetece corrrer, em frente, sem destino. Correr como se fosse a fugir, como se houvesse pressa de deixar para trás o que incomoda, atrapalha ou magoa. Corrida sem nexo nem objetivo, só porque sim. Talvez lá no fundo se busque a esperança de algo melhor... mas não sabemos bem o quê. Nem ambicionamos alcançar nada em especial. O próprio movimento é o objetivo final, o simples sentir do vento no rosto já vale a pena, tal como o cansaço, o frio ou o calor nas pernas. Pode-se correr ou andar apenas... dependendo da força, da juventude ou da elasticidade do corpo. Quem não tem estofo nem treino de atleta também pode correr, ou seja, pode andar ... ir indo mais devagar. O que interessa é o movimento e não a velocidade. O que importa é sentir que se anda, porque parado no lugar onde se está, não há nada de importante para fazer, nada acontece, nada apetece. Andar, correr, olhar para o infinito. Sim, o infinito é uma ideia maravilhosa, pensar em lá chegar seria o melhor dos prémios ...
Deve ser isso o que pensam os alpinistas quando sonham com a subida do Everest, algo que lhes aparece quase inatíngível e desafiante. Ao mesmo tempo, impróvavel mas não impossível.

Para muitos a vida é um caminho, por onde se passa a correr ou devagar. Para outros, é um lugar, um sítio parado, onde se fica... não necessariamente quieto nem sem fazer nada, mas um lugar de geometria real ou funcional limitada pelas balizas da normalidade, pelas regras do quotidiano ordinário.

A vida pode ser um caminho - às vezes, uma vereda pedregosa, outras um passadiço suave ou uma auto-estrada de trajeto rápido. 
Mas também pode ser um lugar sossegado.


  

Um prado verde onde se constrói um espaço de fixação permanente, ou uma praia ao sol em frente um mar azul, onde se adormece lentamente, um lugar de conforto com família e coisas seguras e sempre iguais (ou muito parecidas umas com as outras e parecidas com as coisas dos outros que nos são próximos). 

O ser sossegado, aparentemente seguro, por geração conhecido, não quer dizer que seja desinteressante ou isento de dramas, até tragédias pessoais ou de dessarumação social. O ser quieto é uma condição interior e não espacial. Tal como ser inquieto ...

Depende da visão de cada um sobre o seu percurso...

A vida ou é um lugar parado e confortável ou é um caminho, uma história em mudança e em movimento.
As duas coisas juntas é que não pode ser.

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