quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Lágrimas


Que as lágrimas que se choram agora, possam um dia ser um sorriso … e que esse sorriso seja de sol, seja entendido como sinal de bondade e de afecto, sem comportar humilhações, nem derrotas, nem mágoas, porque no fundo somos todos seres humanos . 
Porque como sabemos, haverá sempre dias de chuva e de sol… e subsiste a esperança, a fé certa de que o amor prevalece sobre as lágrimas. 

Todos temos sentimentos e quando se trata de pessoas boas, livres e iguais, em crenças e valores, que se conhecem bem ou, pelo menos, que o suficiente para ter uma intimidade sadia, não é preciso demonstrar nada, nem de se afirmar em superioridade, nem de esconder defeitos, nem de fingir qualidades. Ninguém é melhor que ninguém.  Cada um tem os seus talentos, que são naturalmente diferentes. Se houver boa-fé e valores sérios, cada qual vale por aquilo que é, pelo que dá e pelo que faz.

sábado, 14 de setembro de 2024

Tempo sem Métrica



Chegaste sem avisar.
És tão antigo quanto o tempo. 
No tempo que recordo, 
quando assento no caminho e acordo, 
és tu que habitas essa memória.
Só tu és o tempo e a glória,
só tu és o tempo em que me fui embora.

Hoje sei, de consciência plena, que só o momento existe,
que a felicidade são segundos, são minutos profundos, 
saboreados na sofreguidão da eternidade, noção que em nós loucamente persiste.

Na ilusão da perenidade, não sabemos a idade do tempo, não sabemos nada…

Os problemas chegam, resolvem-se se e passam.

Quanto às pessoas, poucas importam - as raras que valem a pena, podem não ser aquelas que por nós se interessam. É pena!

As crianças que, um dia embalámos e julgávamos nossas, não o são. Nunca o foram. Eram delas, nasceram no passado e não sei onde estarão no futuro. Futuro que também não existe!

Depois de morar tantos anos neste lugar chamado Terra, o futuro é uma língua de areia à beira-mar da velhice e da morte… 

Tudo é relativo, transitório… e já nada devia ser importante, nem necessário. 
Na velhice, que se aproxima e para mim cedo demais, nada mais me deve incomodar. É deixar andar.  

 O melhor remedio para a solidão e para o desamor é o desprendimento das coisas, o deixar correr a vida sem nela participar… o contentar-me com a miséria dos dias tristes e alegrar-me com as migalhas boas que me caiem no colo… cada vez menos…

Penso no tempo do antes e não te vejo lá, porque, hoje, é como se sempre estivesses estado cá.

Olho este tempo presente como uma paisagem estática: a vista de uma mesma janela, sempre igual, mudando de cor segundo as regras das estações e os caprichos da natureza.

Só tu estás lá, presente. Ou ausente. Por vezes, num tempo de bruma, esbatido por detrás de uma cortina de chuva intensa, outras num dia de sol, quase invisível pela luminosidade imensa, que cega e ilude… mas estás. 

Pensava em ti como uma paisagem eternamente presente, apesar da inevitabilidade e imprevisibilidade das ausências, num certo desprezo desinteressado, que associava ao caracter fleumático, à falta de jeito para lidar com o calor humano… 

Ás mulheres que seduzias, mentias.

Fazendo de conta que não te “tocavam”,  fingias não te prender, com medo de te perder. 

Tudo isto eu vi, há muito, com a doçura e com o jeito de quem te tem no peito. 

Julguei ser feitio, defesa própria, acto heroico para manter a liberdade, a bandeira do amor nunca içada, desprezada, pisada, coração sem tecto, bloqueado ao afecto, na crença de evitar compromisso. Mas, não é  isso!

Enganei-me. Hoje sei que te prendeste a ti mesmo e a mais ninguém. 

Por não  te queres prender, estás-te a perder.  Finges uma falsa liberdade, finges que és autônomo, livre e não precisas da solidariedade e da amizade alheias, mas sabes bem que gostas de mimos com jeito, que não és indiferente às imanências de uma fêmea e à paz viva do seu leito.  Manténs o calor do corpo e o gosto do afecto.  Queres o toque de uma qualquer pele … quer saiba a goiaba ou a mel. Qualquer uma que venha com o vento… porque nunca dormes com uma mulher mas com Tempo.

Precisas de amigos , que provavelmente vão desaparecendo… É a lei da vida. Refugias-te na família de sangue, como forma de fuga, com medo de seres tomado por outros afectos, para não teres de dar nada de ti … como se tu fosses eterno e os demais simples humanos mortais, que vão primeiro para o além dos lindos quintais. 

Mas um dia descobrirás que  todos se vão e estarás só, sobram talvez os mais novos que, se calhar, te estimam um pouco ( e são cada vez menos). Nesse dia, sentirás a falta de afecto de alguém próximo que te estime de verdade. E aí a verdade poderá revelar-se travestida de mentira…

Não sei quem será esse alguém, se existe ou está para vir, porque pouco sei sobre o teu tempo… Só conheço o tempo antigo e solitário que é o meu.

Nele, habitas um espaço que não tem passado nem futuro… que é só momento, molécula da vida, finita e, por vezes, doente. 

Um chá de bondade, com sabor a paz, alegria com um toque de mimo reprimido é o segredo para a saúde, que ofereço e desejo.

É este o meu tempo, o único que tenho e onde te tenho. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Os Normais


A vida é injusta para com as pessoas “normais”. 

Que são a maioria, felizmente!

Apesar de serem uma maioria em regra silenciosa…

São aquelas pessoas que batalham no dia a dia cumprindo discretamente os seus deveres, muitas vezes com esforço e abnegação, porque assim manda a sua consciência. Vivem com cedências constantes, sofrimento, traições, aceitando contrariedades com cara alegre… e desde que as ofensas não ponham em causa a dignidade de cada qual, seguem em frente, sem alarido nem publicidade.

Claro que a fronteira da dignidade aceitável e suportável é difícil de definir; o que para uns é admissível (por exemplo, apanhar pancada do marido), para outros a fasquia da ofensa e da indignidade está muito acima (é o meu caso). 

Ser bom para as pessoas de quem se gosta não tem nada de heróico nem de especial. Não é apreciado nem louvado. É normal! 

E os “normais” são aqueles a quem não se liga e se diz: vai-te à vida! Tens boas condições para isso, tens pão e tecto, não tens necessidade de amor, nem de compreensão, nem de ajuda ou de solidariedade. Não tens direito a estar doente ou deprimido. Desenrasca-te!


Pelo contrário, os “desfavorecidos” da sorte merecem piedade e apoio. E são logo enquadráveis em situações de dependência que é fácil justificar - os coitadinhos que tudo merecem (pobres, doentes, velhos solitários, desempregados, sem-abrigo, sem

Pátria, malucos, etc). E efetivamente precisam de ajudas, subsídios, legislação adequada, não duvido.

Mas isso não faz deles um grupo nem melhor nem pior do que os outros. São humanos desfavorecidos e devem ser ajudados. Esta condição não lhes deve dar direito à “arrogância da pobreza”. 


Enquanto, os ricos e poderosos são objeto de inveja e ódio e desprezo por razões diferentes. Não precisam de ser ajudados mas têm direito a ser olhados com o mesmo respeito que qualquer ser humano. A menos que, na origem da riqueza haja crime… mas a parte criminal não é para aqui chamada. Acontece em qualquer grupo ou local.

O que interessa aqui é o comportamento da sociedade perante as pessoas. Somos todos humanos e todos temos os nossos problemas , defeitos qualidades e direito à vida e à solidariedade coletiva. 

Irrita-me o discurso de que os desfavorecidos são todos uns coitadinhos e os ricos uns malandros… e depois há os outros: os Normais, a quem ninguém liga.


Bem-aventurados os pobres de espírito porque será deles o reino dos céus.  

Eu dispenso fazer o papel de desgraçadinha, só para aumentar a minha cotação de mercado e cativar a compaixão alheia. 

Tal como cultivo a bondade, desprezo a arrogância e não faço alarde das minhas “riquezas” materiais ou espirituais, nem dos meus talentos e desejos mais íntimos.

Resumindo, sou normal e desses não reza a história. E são praticamente invisíveis, mesmo junto de quem lhes é mais próximo. 

Sei, há muito, o que valoriza um ser humano, não é nem a riqueza nem a desgraça.


Um ser humano vale por aquilo que é e não por aquilo que faz ou por aquilo que tem (ou não tem).


A trilogia do “ser”, “fazer” e “ter” comanda a sociedade, as pessoas e as organizações, de um modo que considero perversa. Talvez não seja esta a melhor palavra. O que gostaria de expressar é a injustiça que grassa por aí, pela importância a meu ver distorcida daquilo que uma pessoa vale pelo: ser, fazer e ter . Ou não ter, no caso dos desgraçadinhos.


Posso ser mal-amada e mal-fodida, posso ser mal compreendida, posso fazer muitos erros (e certamente os faço) mas nunca porei a culpa nos outros.

A imagem que transmito com os meus atos, o bem ou o mal que faça são da minha exclusiva responsabilidade.

Tal como um chefe é responsável pelos seus subordinados. Eu sou a chefe de mim mesma. Se algo corre mal, é em princípio culpa minha. Falhei e gosto que o digam para poder corrigir.

O facto de falhar e de não conseguir atingir o meu nível de “ ambição” - aquele que os outros me atribuem mas que para mim não é demasiado alto, é normal e justo - não faz de mim uma infeliz, permanentemente insatisfeita. 

Faz-me sentir triste e impotente por ter falhado, pode fazer com que me sinta eventualmente deprimida e só, é uma atitude pontual e normal, quando se tem uma desilusão. Mas jamais me sentirei derrotada por não atingir o que quero. 

Posso ser chata e reivindicativa - é sinal do meu gosto por querer mais e não um lamento por ter menos e me sentir derrotada.

Não farei parte dos deserdados da sorte, que deixam de lutar. 

Não farei parte do contingente das sanguessugas, dos que dependem dos outros para prosseguir as suas vidas à custa alheia, dos que lamentam as suas desgraças pondo a culpa em quem lhes atrapalha o caminho, ou lhes roubou um passado sonhado. 

Eu penso pouco no passado e as marcas que eventualmente me deixaram não me angustiam, nem criam sentimentos de vingança, nem condicionam a liberdade e independência, nem me provocam arrependimentos nefastos daquilo que não tive ou já tive mas perdi. 


O passado de cada um de nós foi o que foi, passou! 

É saudável pensar assim . 

Nem todos os sonhos de infância e juventude se realizaram, pois não! Acontece a toda a gente, sobretudo com os mais fantasistas. Mas não é saudável procurar no futuro tapar todos buracos, desgostos ou erros que o passado nos deu. 

Numa idade “ já mais para o avançado ”, como a minha, é errado olhar o presente como se fosse a última paragem do caminho de ferro da vida. O lugar onde à pressa tudo de bom tem de acontecer - tipo pudim instantâneo que é preciso fazer porque surgiram visitas inesperadas e não houve tempo de fazer um doce melhor.

É estúpido pensar que é nesta estação que, por milagre, se irão, realizar todos os sonhos por concretizar e emendar todos os erros acumulados. Não há milagres!

Isto sou eu a falar. Porque sou normal. 

Tento viver o presente como uma criança que recebe um presente. Gosto da prenda com muita força e quero mais e melhor. Quero agora porque vivo na realidade e não porque o tempo urge e há que recuperar o passado desperdiçado ou mal usado.

Farei tudo para vencer, para ser feliz, para ser “normal”. O poder e o dinheiro em demasia não são objetivos. A riqueza do afecto humano é o mais importante.

O amor é o maior tesouro… sei perfeitamente que nem sempre se encontra, nem todos o conhecem. Fui uma  privilegiada neste aspecto, não tenho expetativas de que se repita.

Mas tenho a ambição e o

direito de ser ambiciosa e de querer viver confortavelmente e em paz, num ambiente de afecto, o pouco tempo que me resta. Lutarei para ter amigos bons que gostem de mim e me respeitem. Lutarei contra o ódio, a indiferença e o desprezo, lutarei contra quem me quiser destroçar, evitarei aqueles que não me souberem ouvir com o som do coração. 


Não acredito muito na família “pura”. Nem tudo o que vem da família é bom, nem sempre podemos contar com ela. Os membros de uma qualquer família são tão bons ou tão maus como outras pessoas quaisquer. Isso do sangue é uma treta! 

Temos deveres legais para com eles, é certo… a nossa sociedade está assim construída… até um dia mudar, como tudo…

Há mosquitos com mais sangue meu do que algumas pessoas da minha família… (gosto de dizer isto para relativizar a preponderância do “império” da família dita normal). 

Há amigos e amores mais importantes e não são mosquitos!

domingo, 25 de agosto de 2024

Eu não gosto de mim?



Acusaram-me de eu não gostar de mim.

Fiquei horrorizada! Eu que tanto luto para ser feliz. Procuro pedrinhas preciosas nos buracos da calçada. Procuro aproveitar o prazer e a bondade escondida em cada bosque, em cada alma.

Procuro fazer amigos que me encham o coração, ajudo no que posso e faço por trazê-los para o meu meio. Faço-o por mim, para meu gosto pessoal e também por eles, para lhes levar um pouco da minha alegria.

Eu gosto de mim e dos outros. Porque só quem gosta muito de si tem amor/amizade para distribuir. 

Talvez haja um certo desequilíbrio, reconheço, entre o gostar de mim e o preocupar-me demais com os outros.

Tenho de rever isto - gostar ainda mais de mim e estar-me nas tintas para ajudar o próximo. Tenho sobretudo de pensar naquilo que me dá prazer. Ser mais egoista.

O pior é que ter uma vida demasiado auto centrada não é saudável. Ser feliz consigo mesma e esquecer o meio envolvente, torna-se claustrofóbico e, às tantas, damos por nós a virar eremitas ou… dementes. Não estar dependente de ninguém é bom e mau, ao mesmo tempo. 

É bom porque se eu gostar muito de mim, isso far-me-á sentir realizada e “importante”, poderosa e vaidosa.

Mas, é mau saber que se anda nesta vida, em solidão emocional… só, orgulhosamente só, sem contar com aquelas pessoas de quem gostamos para se ser ainda mais feliz. Isso também me parece ser triste.

Ninguém é feliz sozinho. Com exceção de eremitas e seres estranhos. 

Eu gosto muito de mim. Mas preciso de me ver ao espelho. Preciso de ver nos olhos dos outros que agrado. Que valho alguma coisa como ser humano.

Gosto de mim. Mas se ninguém perceber isso, de que serve? 

Só eu e mais ninguém saberemos que gostamos uma da “outra”- uma espécie de masturbacão afetiva. Não é saudável. 

E perde-se tanta coisa boa da vida - que é gostar de nós porque somos bons, porque fazemos bem a alguém e isso é reconhecido.

Se alguém me diz que eu não gosto de mim, é uma desfeita no meu caracter… e essa pessoa pode não o fazer por mal.

O razão estará talvez em mim: que não sou capaz de demonstrar o contrário. Eu gosto de mim  tanto… que posso ter a ambição de ser melhor ainda e esta “aparente insatisfação” vem do facto de eu não conseguir mostrar aos outros a felicidade que existe em ter uma auto-estima elevada e em querer sempre mais e melhor para mim mesma.

Talvez tenha de ir mais vezes ao espelho e cantar bem alto como gosto de mim, como me sinto orgulhosa pelo que consegui, por ser corajosa e resistente, como construí uma vida de liberdade e independência, não preciso de quem me sustente ou me dê um tecto. Sou orgulhosa disso. E também de ser capaz de rir de mim mesma e de olhar os meus fracassos como um incentivo para melhorar. Estou orgulhosa desta mulher maravilhosa que sou, dos filhos que criei e do neto que cresce com a minha alegria, orgulhosa e feliz por gostar ainda mais de mim, por ser capaz de ultrapassar as dificuldades que a vida sempre traz… por privilegiar o amor digno acima de eventuais percalços, ou desgostos. acima de interesses materiais. E por enfrentar a vida, mantendo a cabeça erguida com um sorriso de prazer por gostar de mim: lutadora, refilona, sempre insatisfeita por querer mais, mas pronta para ignorar quem se põe em bicos dos pés e julga ser a melhor do mundo, a dona disto tudo e a única capaz de conquistar território pela via de artifícios vários. Mas como eu gosto de mim, saberei resistir e inovar, para tudo de mim dar ou para partir para outro lugar , sempre gostando de mim … e de quem me quer bem.

Por causa desta minha maneira de estar na vida, por causa deste meu complexo de superioridade, tenho aguentado estoicamente situações que, se calhar outros não aguentariam. 

Não é fácil estar sistematicamente a semear um campo de amor, onde floresçam as plantas de que gosto, e elas murcharem pela minha falta de jeito as regar ou, então, serem regadas, pisadas ou tinadas por outros. Não é fácil assistir ao ódio.  que pende sobre o meu campo de amor,  chuva ácida que tudo tenta destruir. 

Não é fácil persistir em andar de cabeça levantada, sorrir e ser normal num clima que conjuga forças para me diminuir a auto-estima, para me desprezar ou mesmo para me mandar embora.

Sinto que tenho sempre a mala feita, para partir. Afinal todos estamos de passagem… quer da nossa vida (porque morreremos, um dia), quer da vida dos outros (que podem escorraçarmo-nos, como um cão desprezado). 

Vemos todos os dias, à nossa volta e sabemos que é assim: já tantos cães vadios e pessoas mal-amadas, abandonadas e repudiadas…

Mesmo assim, tudo farei para manter a minha dignidade, preservar quem eu amo e guardar a pequena dose de felicidade que me couber… sem… desfalecer. 

A mim só chateia quem eu quero e admito, porque primeiro estou eu e o respeito por mim mesma. Eu e o prazer de estar viva!


segunda-feira, 24 de junho de 2024

Viva a Bondade!

 


Não é preciso ser crente para entender que o povo, otimista e sábio, tende a acreditar que o Bem prevalece sobre o Mal. 
E quase todos (com exceção de psicopatas, de mafiosos ou de outras mentes atormentadas pelo rancor ou pela vingança) acreditam que ser bom compensa.
Acreditam nas vantagens da Bondade, pensando obter, de fonte divina, os benefícios que justamente julgam merecer. Acreditam no dom da solidariedade e da entre ajuda, e por isso, esperam o retorno que lhes é devido - merecem ser felizes. 
Mesmo quando as circunstâncias da vida trazem desgostos e azares vários, ainda se sentem bons, maravilhosos e fortes para combater o pouco ou nada que o diabo lhes oferece.
Este estado idílico da vida, pessoal ou global, traz o povo mais calmo e capaz de dizer - qual miss Universo -  o que queremos é paz e amor. O Diabo que se cuide. Tem pouco para dar e quanto a tirar … isso depende de nós. Se o ouvirmos…
Ainda bem que é assim! 
Que a fantasia positiva e o otimismo utópico permaneçam na cabeça da maioria. 
Que a esperança na bondade, quer venha de cada um dos nossos semelhantes, quer seja a existente no  mundo em geral, se mantenha nos seus corações e lhes seja suficiente. 
Numa sociedade preenchida de pessimistas com o coração vazio de dádiva e de esperança… tudo será pior.
É tudo uma questão de Fé na Humanidade e em nós mesmos. Desistir de acreditar na Humanidade, pensar apenas nas guerras tão reais e cada vez mais próximas, ou na pobreza que morre literalmente à porta das nossas casas ou desprezar seres humanos que só por serem diferentes de nós constituem uma ameaça potencial , é viver sem graça, sem sentido …
É preciso ser bom, ter esperança e ter coragem, trabalhar para isso ( cada qual faz o que pode, claro), falar mais alto, para não perder o tino e não perder o escudo mental que nos protege das agruras imensas que nos rodeiam. 
Não devemos submergir aos medos globais, como a guerra ou as doenças graves, nem aos medos pessoais, como a velhice, a solidão e a falta de amor. São eles que, todos os dias,  atiram para fora do “sistema”um grande número de vencidos da vida, uma grande massa humana que não usa a bondade como alimento saudável e protetor da tristeza e da depressão. 
O “diabo” está sempre à espreita, sempre à caça e muito alerta quanto às angústias dos mal amados e dos mal fodidos, anda à procura dos desiludidos, dos desempregados, dos solitários abandonados, dos azarados e dos que se vão abaixo facilmente. 
Haja olhos para que o Homem possa estar aberto aos benefícios de ser bom, para que o homem possa  escolher em liberdade o caminho que lhe trará a felicidade possível.
Não existe a Felicidade absoluta, talvez… Mas podem existir momentos felizes … se possuirmos dentro de nós tolerância para com a diferença e bondade suficiente para os criar. 
Do “diabo”- da maldade que os rancorosos produzem para nos abater disfarçada de falinhas mansas e carinhos falsos - só podemos retirar consolo pontual ou cair num mal permanente… sobretudo se vierem disfarçadas de promessas vãs e interesseirismos obscuros. 
Traição é isto - mascarar a maldade com uma roupagem da bondade - para levar o outro ao chão, ao “tapete” da desgraça e da desilusão . Trair não é gostar de mais outro alguém ou de muita gente, com bom propósito e lealdade. 
Trair é mentir com o propósito de transformar o outro num morto sem conserto. É procurar destruir a auto-estima de um ser humano bom, para que seja possuído pelo medo - para que o “diabo” ocupe o lugar da bondade.
Viva a Bondade!
Em todas as circunstâncias porque só ela nos protege, única vacina contra quem não vem por bem. 

sábado, 1 de junho de 2024

A Gueixa e o Buraco

 


Uma vez perguntaram a um homem - com mundo, com educação, com uma vivência rica, civilizada e com algumas mulheres que marcaram a sua vida - com definiria a Mulher se tivesse de escolher entre duas definições:

- Uma mulher era para  ele uma gueixa ou um buraco? 

Ele respondeu (surpreso, mas sem pensar muito): uma Gueixa.

Lá pensou que seria esta a resposta mais limpa e delicada. 

Para mim, é a resposta mais absurda e indelicada.

Uma gueixa é uma mulher sem liberdade, submissa aos prazeres e interesses dos homens, quase uma escrava de luxo. Não é bem um ser humano, mas sim um autômato, formada e educada com requinte para “servir” o homem, seu senhor ou os homens que a ela recorrem. Está presa ao sistema, é sub-humana, face aos padrões modernos ocidentais. É uma espécie de puta fina, com predicados impecavelmente escolhidos e ajustados aos desejos dos outros, um ser sem livre arbítrio, sem hipótese de desenvolver uma personalidade própria, mas com dotes artísticos/culturais perfeitamente adquiridos, servindo sem dignidade os gostos e as ordens de seu dono e senhor. Todavia é respeitada no meio onde se insere… delicadeza deles, para melhor perpetuarem e branquearem a servidão.

E há muitas mulheres assim, mesmo que não estejamos no Japão, nem sejam gueixas, são o produto de um esquema produzido e reproduzido por homens, ao seu jeito.

- Pelo contrário, ser um Buraco é mais digno, é ser fêmea, logo um ser humano normal do sexo feminino.

Permite que a mulher se afirme, em glória, assuma o seu lugar de poder, ao mesmo título que um homem. Há igualdade em ser “buraco”, há reconhecimento da mulher como um ser humano de pleno direito. É buraco porque é fêmea, logo um ser válido e livre (se vivermos num regime político que subscreva esta condição, claro), que pode e deve ser igual ao homem com a única diferença de anatomicamente ter buraco e não pilinha.


( Obra de Gustave Courbet, que fez esta pintura para representar em versão não censurável, o seu quadro mais famoso, polêmico e “chocante” - A Origem do Mundo) , ou seja, o tal buraco de uma mulher verdadeira.







terça-feira, 23 de abril de 2024

Somos Todos Anjos…


Somos todos anjos de uma só asa…

Mesmo aqueles que se entendem por fortes, que se julgam orgulhosamente não dependentes de nada nem de ninguém, que são resistentes aos “frios” da vida e aos “quentes” das emoções potencialmente perturbadoras, por perigosas na preservação da liberdade individual, mesmo esses estranhos heróis da ausência, são frágeis.

Faz parte da condição humana , vacilar por dentro, duvidar, sofrer … e depois maquilhar de coragem e rigidez, a frágil entranha, para ostentar a pedra preciosa inquebrável, que não somos.

É assim!

Esconde-se a verdade e mostra-se a mentira, por vergonha. 

A verdade, coitadinha, precisa tanto de sol para sair e para florescer em felicidade. Precisa tanto de expor fraquezas, receios e anseios, contar com a solidariedade alheia, em transparência.

A verdade é a nossa fragilidade mais escondida. Precisa de ir à praia, de apanhar vitamina D, de escolher o sol que a leve a voar, sem medo, precisa de aceitar a fragilidade e a incompletude do ser humano que está em solidão ou disfarce.

Somos todos frágeis, somos todos anjos de uma só asa, para crescer precisamos de nos abraçar … e de duas asas para voar.

Um abraço de duas asas, um encaixe de conchinha, um toque luminoso de pele suave que se deslisa, que se entrelaça e que, quando quebra, vai à cola e une as partidas/separadas asas do

amor…

Se todos o entendessem, o Mundo seria muito melhor. 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Certezas e Incertezas


Certas são as incertezas que me varrem a mente.
 

Certa é a mentira onde mergulhei a minha vida, onde eu mesma me levo ao engano, por vontade e desvelo.


Certa é a angústia e o flagelo.

Mas também a vã esperança de encontrar quem veja, no afecto, alguma beleza.

Pois, com jeito, a única certeza é ter por leito com um manto de frieza.

Que, se deixares, aquecerei com certeza!


Tão certas, tão certas, são estas tristezas… que terei que fazer delas alegria, se desejar que para mim amanhã seja um novo dia. 


Até que não haja mais dias, para inventar alegrias.

Até ao fim, já tão próximo, em que certezas e incertezas se confundem e nos esmagam…

a nós, pobres vermes que não soubemos entender enquanto gente,

O que era o dom da vida e a maravilha da liberdade transparente. 

domingo, 17 de março de 2024

 



Homenagem a Nuno Júdice

(Como se fosse eu... que não o saberia escrever...)

É Isto o Amor

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice, in 'Pedro, Lembrando Inês'

domingo, 18 de fevereiro de 2024

O sentido da vida


A vida só faz sentido se houver um objetivo (ou mais) no horizonte. 

Não tem de ser um objetivo sorridente e ambicioso… mas tem de ser algo que nos faça correr. 

Não é absolutamente necessário ter esperança num amanhã melhor, para se ser feliz. O objetivo tanto pode ser uma coisa ou uma ideia simples, como ser uma meta longínqua e difícil de obter. Pode ser meio-fantasia, algo de fantástico ou quase inatingível.

Ou mesmo uma ambição desmesurada.. Mas tem de haver algo na linha do horizonte, para que se mantenham de pé, aqueles que esperam algo mais do que simples sobrevivência.

A vida plana, mar azul e liso, sem infinito do mesmo tom de azul… igual, igual… monótono , rotina … não me faz correr. Não me dá o alento necessário para sair da cama. 

Tem de haver algo que nos mova, algo para lutar por… algo para amar estupidamente alguém. Sim, porque querer demasiado a alguém é um sentimento estupido … mas bom.

É o bom saber que alguém precisa da nossa generosidade.

É preciso um sentido de vida… um caminho vislumbrado pela frente que incentive a caminhada…. Que valha a pena. 

Só “ entretimento” pessoal, não é vida. Ocupar o tempo é fácil : vai-se ao café, à ginástica, arranja-se um hobby, junta-se a família (mais por obrigação do que por gosto), telefona-se a um amigo, etc… e o dia está feito , o tempo fica preenchido … mas o coração vazio.


domingo, 28 de janeiro de 2024

Férias

 


Este ano decidi que vou ter férias... minhas!
Não sei para onde vou (ou se fico), não sei se serão férias acompanhadas ou solitárias, como têm acontecido tantas vezes. No campo, na praia ou em casa. Alguma coisa será... mas serão minhas.

Uma coisa eu vou tentar fazer, com muita força: que não sejam INVERTIDAS como as férias do ano passado, tal como escrevi no post de agosto de 2023.

De abril a outubro passados, construí e desconstruí, numa base de programação ativa e feliz, um plano de férias. Programação que envolvia cedências e acertos de datas entre muitos, soluções partilhadas com alegria, decididas e acordadas a bem, com mapas desenhados, roteiros estudados e confirmados... 

Até houve hoteis marcados e desmarcados (um já não devolveu a reserva), mas os planos  que pareciam "firmes" e consensuais, foram paulatinamente falhando, os destinos caindo uns atrás de outros, invertida a marcha porque outras marchantes encontram melhores rumos.

Decididamente, não tenho jeito para agência de viagens. 

E quanto a companhias, as desilusões foram várias, as faltas de respeito (da própria familia), as diferenças  "culturais" desagradáveis... podem simplesmente resultar numa transmutação de dondoca em faxineira... Tão fácil! 

E as melhores das intenções viram chatices, férias que não programei, não desejei e não foram boas para ninguém. Tudo um frete. Um cabaz de fretes! Férias ou são boas ou é melhor desistir.

Este ano vou desistir de encantar os outros - aqueles de quem gosto - vou capacitar-me de que não sou capaz de lhes dar o prazer da minha maravilhosa companhia, num destino espampanante!

Não vou fazer absolutamente nada para inventar uma viagem entusiasmente e gratificante para esta Primavera/Verão, para mim e para quem eu gostava de ter próximo. O que tiver que acontecer, acontece.

Se alguém, me desafiar, eu vou...

Se não, fico na cama o dia todo... talvez saia à rua para ver o sol ou tomar um café e voltarei rapidadamente para casa, para esquecer... não pensar em férias, não lembrar que haverá gente na praia, no campo, a sorrir ao sol, a dar beijos ao luar... e ser feliz. Coisas, que por motivos a que sou alheia, me é vedado.

Mas uma coisa é certa, decidi mesmo que não vou passar metade do ano em ânsias, sempre sem saber que viagem vou fazer, que tempos, que destinos e que desejos alheios me saem em sorte.

Vou sentar-me e esperar que a vida passe... 

Talvez o tempo parado, de espera incógnita, me surpreenda e me leve na onda das pessoas humanas (que sorte!)... ou talvez não. 

Talvez eu seja apenas uma pessoa sub-humana.

Amigos dificilmente me querem para férias, sou má agente de viagens. Só tenho ideias triviais e não encontro lugares recônditos, espetaculares, originais, interessantes, simples, baratos, acolhedores e/ou com paisagens românticas...

Julgo que talvez fosse capaz de encontrar locais com graça, mas será que a minha companhia tornaria o mais belo destino num monte de m... , em algo de sensaborão?

O defeito só pode ser meu. Estou disposta a ir a qualquer sítio, desde que a companhia seja agradável e não seja empurrada para o lixo das ultimas opções - dos produtos não vendáveis da pior das agências...

Só peço aos céus que me conceda o dom da Inveja e o dom da Persuasão, para me vingar de quem faz melhor,  de quem saber organizar uma bela viagem de férias e consegue persuadir o/a parceira de que o melhor destino é aquele, de que melhor companhia de viagem é a sua e que sobrevoam em enlevo apaixonado e aventuroso a nuvem de um mundo de encanto único e original.

Um mundo de intimidade, ilusão e paz… em movimento.

Porque o melhor do mundo são as pessoas e logo a seguir as viagens, a busca e a descoberta do próprio mundo na sua diversidade. 


sábado, 27 de janeiro de 2024

Inverno - inferno

É Inverno, o vento transporta nuvens de angústia, relâmpagos de raiva, chuvas de lágrimas. É a natureza das coisas, culpa do anticiclone (não o dos Açores) mas aquele que habita dentro de tantos de nós. E chamamos de depressão a este vendaval de altas e baixas pressões.

Mais um Inverno, mais um período de inferno se avizinha. Um inverno de choro, tristeza, dúvidas e insônias … um Inverno-inferno que se prolongará pelo Verão. Adoçado, talvez, por uns brilhos de sol e muitas caixas de Lexotan.  

(Para quem não sabe são umas caixas de beijos que se vendem na farmácia).

Quando há sol, tudo parece melhorar, a gente engana-se (ou faz de conta), mente a si própria… e começa a pensar em viagens, fins de semana com quem mais gosta e outras pequenas alegrias. Que muitas vezes falham. 

Pensa-se em abraços queridos, em praias quentes, em noites escaldantes … em falhando, há Bromalex que também se vende em caixas na farmácia.

Não vale a pena ter Fé, porque a Esperança é falível e a Caridade um bem escasso. 

Não vale a pena acreditar nestes três pilares cristãos para encontrar um sentido para a vida ou um caminho para a felicidade.

É tudo uma nuvem de mentiras, conscientemente contadas para engano próprio. 

Contudo, agarramo-nos à Fé na salvação da alma, como se uma alma se pudesse lavar com Omo, cremos nos acontecimentos felizes que estão para vir, pensando que merecemos algo de bom - da sorte grande ao Euromilhões, do aumento de salário a uma casa nova - e tendemos a acreditar na bondade humana.  

Mantemos a Esperança nos dias de sol, que tomarão o lugar do Inverno-Inferno do nosso descontentamento. Se essas esperanças falharem, então, corajosamente iremos reformular a trajetória e substituir o fracasso por outra coisa: mais uma caixa de pastilhas rosa, um bebê nos braços, uma tela e tintas para pintar, uns amigos às vezes… 

Mas isso não é Verão a sério - é apenas uma névoa para esconder o Inverno-inferno que a velhice não arreda.

No Inverno, sente-se mais o frio das relações de afecto ou de amor, tudo se mostra mais cru, gelidamente real, ficamos mais próximo do tempo exterior… haverá maior semelhança entre o que sentimos e o que vemos, dentro e fora de nós. Tudo frio, deslaçado…

Um bloco de gelo é transparente, vê-se tudo, é real!

 O sol, de tão brilhante, obscurece o olhar e cega! 

Neste Inverno, cada vez mais próximo do frio final, a tristeza e a permanente insatisfação continuam latentes.

Fraco lenitivo é dar um pouco de amor, de afago ou de conforto a quem o aceita, crianças e carentes materiais. 

Tudo o resto é nada! Não havendo quem aceite uma dádiva de amor graciosa, não havendo retorno desse desejo, não existindo quem saiba ouvir, compreender, agasalhar com gosto, ou se preocupar com a felicidade alheia … nada mais importa.

Saúde, casa, família, dinheiro e alguns amigos, são fancaria. É preciso algo sólido, como o ouro! Todos merecemos mais! 

Só os bons sentimentos, a sua partilha, a cumplicidade e intimidade valem a pena. E dão sentido à vida. 

E o inverno ainda será mais inferno se não houver liberdade. Liberdade para não fazer nada, para manter a dignidade de não trabalhar em prol dos outros, de amar quem não nos ama,  de não ajudar quem precisa e merece … mas não apetece.

Liberdade de dormir o dia todo, ou só uma parte … sem horas… sem comida … e até liberdade de ir dormir e não acordar mais, se for essa a solução.

Não é boa solução, eu sei! Desaparecer da face da terra não incomodaria ninguém e alguns até ficariam contentes. Enquanto puder, ao menos assistirei, a rir, à desilusão daqueles que se riem de mim.