domingo, 25 de agosto de 2024

Eu não gosto de mim?



Acusaram-me de eu não gostar de mim.

Fiquei horrorizada! Eu que tanto luto para ser feliz. Procuro pedrinhas preciosas nos buracos da calçada. Procuro aproveitar o prazer e a bondade escondida em cada bosque, em cada alma.

Procuro fazer amigos que me encham o coração, ajudo no que posso e faço por trazê-los para o meu meio. Faço-o por mim, para meu gosto pessoal e também por eles, para lhes levar um pouco da minha alegria.

Eu gosto de mim e dos outros. Porque só quem gosta muito de si tem amor/amizade para distribuir. 

Talvez haja um certo desequilíbrio, reconheço, entre o gostar de mim e o preocupar-me demais com os outros.

Tenho de rever isto - gostar ainda mais de mim e estar-me nas tintas para ajudar o próximo. Tenho sobretudo de pensar naquilo que me dá prazer. Ser mais egoista.

O pior é que ter uma vida demasiado auto centrada não é saudável. Ser feliz consigo mesma e esquecer o meio envolvente, torna-se claustrofóbico e, às tantas, damos por nós a virar eremitas ou… dementes. Não estar dependente de ninguém é bom e mau, ao mesmo tempo. 

É bom porque se eu gostar muito de mim, isso far-me-á sentir realizada e “importante”, poderosa e vaidosa.

Mas, é mau saber que se anda nesta vida, em solidão emocional… só, orgulhosamente só, sem contar com aquelas pessoas de quem gostamos para se ser ainda mais feliz. Isso também me parece ser triste.

Ninguém é feliz sozinho. Com exceção de eremitas e seres estranhos. 

Eu gosto muito de mim. Mas preciso de me ver ao espelho. Preciso de ver nos olhos dos outros que agrado. Que valho alguma coisa como ser humano.

Gosto de mim. Mas se ninguém perceber isso, de que serve? 

Só eu e mais ninguém saberemos que gostamos uma da “outra”- uma espécie de masturbacão afetiva. Não é saudável. 

E perde-se tanta coisa boa da vida - que é gostar de nós porque somos bons, porque fazemos bem a alguém e isso é reconhecido.

Se alguém me diz que eu não gosto de mim, é uma desfeita no meu caracter… e essa pessoa pode não o fazer por mal.

O razão estará talvez em mim: que não sou capaz de demonstrar o contrário. Eu gosto de mim  tanto… que posso ter a ambição de ser melhor ainda e esta “aparente insatisfação” vem do facto de eu não conseguir mostrar aos outros a felicidade que existe em ter uma auto-estima elevada e em querer sempre mais e melhor para mim mesma.

Talvez tenha de ir mais vezes ao espelho e cantar bem alto como gosto de mim, como me sinto orgulhosa pelo que consegui, por ser corajosa e resistente, como construí uma vida de liberdade e independência, não preciso de quem me sustente ou me dê um tecto. Sou orgulhosa disso. E também de ser capaz de rir de mim mesma e de olhar os meus fracassos como um incentivo para melhorar. Estou orgulhosa desta mulher maravilhosa que sou, dos filhos que criei e do neto que cresce com a minha alegria, orgulhosa e feliz por gostar ainda mais de mim, por ser capaz de ultrapassar as dificuldades que a vida sempre traz… por privilegiar o amor digno acima de eventuais percalços, ou desgostos. acima de interesses materiais. E por enfrentar a vida, mantendo a cabeça erguida com um sorriso de prazer por gostar de mim: lutadora, refilona, sempre insatisfeita por querer mais, mas pronta para ignorar quem se põe em bicos dos pés e julga ser a melhor do mundo, a dona disto tudo e a única capaz de conquistar território pela via de artifícios vários. Mas como eu gosto de mim, saberei resistir e inovar, para tudo de mim dar ou para partir para outro lugar , sempre gostando de mim … e de quem me quer bem.

Por causa desta minha maneira de estar na vida, por causa deste meu complexo de superioridade, tenho aguentado estoicamente situações que, se calhar outros não aguentariam. 

Não é fácil estar sistematicamente a semear um campo de amor, onde floresçam as plantas de que gosto, e elas murcharem pela minha falta de jeito as regar ou, então, serem regadas, pisadas ou tinadas por outros. Não é fácil assistir ao ódio.  que pende sobre o meu campo de amor,  chuva ácida que tudo tenta destruir. 

Não é fácil persistir em andar de cabeça levantada, sorrir e ser normal num clima que conjuga forças para me diminuir a auto-estima, para me desprezar ou mesmo para me mandar embora.

Sinto que tenho sempre a mala feita, para partir. Afinal todos estamos de passagem… quer da nossa vida (porque morreremos, um dia), quer da vida dos outros (que podem escorraçarmo-nos, como um cão desprezado). 

Vemos todos os dias, à nossa volta e sabemos que é assim: já tantos cães vadios e pessoas mal-amadas, abandonadas e repudiadas…

Mesmo assim, tudo farei para manter a minha dignidade, preservar quem eu amo e guardar a pequena dose de felicidade que me couber… sem… desfalecer. 

A mim só chateia quem eu quero e admito, porque primeiro estou eu e o respeito por mim mesma. Eu e o prazer de estar viva!


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