terça-feira, 23 de agosto de 2022

Soneto da Fidelidade


Se a fidelidade é uma fechadura, uma tranca que é colocada à felicidade, como entender Vinicius?

Se, por vezes, se arruma a felicidade e a liberdade num cofre à prova de bala, pomposamente apelidado de suposta garantia de infidelidade, como entender quem ama para além dos limites do cofre ou quem acha que a gaiola deve estar sempre aberta ao livre voo dos passarinhos? 

Houvera quem me ensinasse, eu juro querer aprender…

Vinicius de Moraes, 1939

Soneto da Fidelidade

“De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”



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