terça-feira, 20 de março de 2018

Viver custa!





As pessoas racionais, realistas e com vontade por ir ao fundo das questões, dos pensamentos ou dos corações, em geral, lixam-se!

Para elas, viver custa. E custa porque têm de suportar a realidade tal como ela é - a frio, a crú, a nú. Aguentam e racionalizam.

Em contrapartida, os fantasistas, os iluminados e os parvamente felizes estão bem mais aptos a sobreviver nesta selva, a que chamamos o nosso mundo.
A realidade é tão dura, para algumas pessoas, ele há vidas tão difíceis - falta de dinheiro, de casa, de emprego, de família ou de afectos, de saúde - que se percebe que essas pessoas sintam a necessidade de fugir à crueza dos dias e dos factos. E tenham a tendência de fugir para o mundo da fantasia, para lá do arco-iris, para a ilha dos amores imaginados...
Nem todos o fazem, naturalmente. Há certamente quem se deixe abater e também quem tenha a força e a coragem para tornar cada dia um acto de heroísmo... E depois há os outros, mais excêntricos, que fantasiam...
Esses, os românticos, optimistas ou espiritualistas são provavelmente um nicho de pessoas estranhas e especiais, mas devem ser muito felizes. Criam para si próprios uma realidade virtual, pintada de cores e semeada de luzes e corações, onde se instalam a sorrir. Ou então, encenam para si próprios uma peça de teatro da felicidade na qual são os protagonistas e os heróis, uma farsa assente em mentiras ou em construções teóricas, nas quais passam a acreditar como verdade.
Ás tantas, a efabulação criativa torna-se tão semelhante aos seus desejos que até acreditam... e deixam de conseguir distinguir entre invenção e realidade.
São assim os processos de fé. Constróí-se, reconstrói-se, escreve-se, divulga-se, pinta-se com outras cores, vende-se com um pouco de marketing e no final já ninguém sabe como começou a história, o que é verdade ou mentira.
Aliás a verdade não existe. O que existe á a nossa perceção sobre os factos, sobre o mundo.
Os fantasistas podem dominar os outros (ou o mundo) se tiverem capacidade de persuasão, se conseguirem meter nas cabeças alheias as suas crenças, por mais mirabolantes que pareçam. Encenam o papel do ser humano perfeito. São em geral personalidades marcantes, interessantes, amáveis, alegres, espirituais, sociáveis e muito tolerantes. Por isso criam empatia, não hostilizam, juntam amigos e fazem da diplomacia uma forma de respirar. Sentem-se felizes por se julgarem tão bons e sentem-me ainda mais felizes por verem que os outros os admiram, veneram e seguem.
É desta massa que nascem os místicos ou os políticos loucos. São carismáticos e julgam sobrevoar o mundo e dominar o comum dos mortais pela superioridade moral que atribuíram a si mesmos.
Uma superioridade moral que inventaram para si próprios, assente na fantasia que lhes aquece fraudulentamente o coração e lhes tapa as misérias de que fogem...


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