domingo, 25 de março de 2018

Inveja


   
Inveja não é querer o que o outro tem e nós gostaríamos de ter. Isso é cobiça!
Não, inveja é um sentimento diferente, mais sujo e intrincado - é desejar o que o outro possui e nós não conseguimos obter, por desmérito nosso. 
Inveja é a prova do nosso fracasso. Não conseguimos igualar aquele que invejamos, por incompetência própria. 
As "culpas" residem todas em nós, o outro lado nada fez, nada tirou, apenas manifestou a sua superioridade e isso é insuportável. Inveja é um atestado de menoridade a nós próprios, comprovada no talento dos outros e na insuficiência pessoal. Dói muito reconhecer que há quem tenha o jeito, o talento, os bens ou a felicidade que ambicionamos e não sabemos alcançar.
Por isso, quem sente inveja pode resvalar para a baixeza de levar o outro ao chão!... tentando que mergulhe na merda onde estamos atolados por defeito próprio. 


Sofre-se porque é insuportável a dor da nossa impotência, da falta de coragem, de talento, de sabedoria, de ambição ou de amor para chegar tão longe quanto seria preciso. Porque quem não tem ambição e tem preguiça só lhe resta invejar quem obteve mais.

Inveja é eu ver um pássaro voando em alegria e liberdade, em direção ao horizonte e saber que estou condenada a ficar no chão... por não sabe voar.

É também a dor de saber que o outro sendo mais rico em sabedoria, talentos ou bens, mais pode dar. 
E ao poder dar mais, ao distribuir pelos seus semelhantes  o que tem, está, naturalmente, habilitado a mais receber.

A inveja é definitiva e inconturnável, porque a incapacidade de igualar o invejado é real. Pelo contrário, o ciume é transitório, é um vazio doloroso mas pontual, porque transporta esperança, partilha, quiça amor ...

Ciúme é um buraco vazio de afecto e cheio de insegurança. Um lugar onde o afeto, por chegar ou preencher, espera atento a sua sorte. É concorrência (leal ou desleal) mas viva, possível, plena de futuro, criadora de esperança e de confiança. Mexe, dói, cicatriza-se e voa. 

Inveja é lança cravejada no peito, sangrando até à morte, sendo que esta não vem, e nos arrasta o sofrimento...parado. Ali!

Inveja é de pedra, ciúme é de ar.


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