segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Velhice jovem

 


O pior da velhice, é que não se envelhece” Oscar Wilde

Terrível e verdadeira constatação. 

A velhice é um rio, um caminho que corre ao nosso lado, mas não nos diz respeito. Por vezes, a velhice por andar por aí à solta e ter a mania de nos perseguir, prega-nos partidas - uma doença, umas fragilidades físicas, uma perda de memória, uma perda de um amigo, pequenos ou grandes desgostos, espelhos embaciados que nos transmitem uma imagem que - de todo - não é a nossa. Não pode ser ! Aquela ali no espelho não sou eu. 

A entupida da velhice está a mentir. 

Anda a rondar por aí, a tentar convencer-me que sou velha, que os meus amigos são velhos, que os meus filhos são adultos, que tudo muda e se degrada… 

O problema da velhice é que ela é muito convencida e vaidosa, mas poucos acreditam nelas. 

Vemo-la passar mas não é nada connosco.

Ora, nós não envelhecemos. Eu pelo menos não. Sou a mesma teen ager cheia de sonhos e de pensamentos parvos, com a vantagem de ser ainda mais despreocupada do que as miúdas de calções e boa perna, que se passeiam com um ar fresco de quem manda nisto tudo.

Pois eu não mudei muito, interiormente sou a mesma . Não creio que haja velhos da minha idade à minha volta. Somos jovens amalucados e excitados, que procuram o amor e a alegria com a efusividade de sempre. O direito ao disparate é o mesmo. Com a vantagem de que o direito ao risco ser maior. Já não temos medo!

Já provámos tudo. Quem acreditou em nós, sabe a criança que temos cá dentro e como ela comanda a vida.

O futuro não é temido porque já não existe. Um espaço de tempo pequenito nos separa da alegria de estarmos vivos, da resignação de vir a estar mortos em pouco tempo.

Logo tudo nos é permitido. A vida é presente, não é futuro. Nós não envelhecemos, continuamos com a mesma vontade de correr atrás de um gajo giro, de dar uma cambalhota valente (mesmo se ele estiver clinicamente impotente!), de ter um carro topo de gama,  de fazer mil viagens, de experimentar uma aventura radical… as pernas é que podem não ajudar. Vai-se é mais devagar… paciência.

Com a sensação de que nos sentirmos novos, porque nós não envelhecemos: pensamos o mesmo, com maior clarividência ainda, perdemos o medo, porque temos calo suficiente para acreditar naquilo que valemos. A auto confiança aumenta com a velhice e permite arriscar.

Não temos muito a esperar. A morte é certa. O risto é mínimo, apenas uma antecipação da data da morte.

A velhice que ande por aí à solta, descansada e lenta. Mas não é comigo. Eu sou uma menina de calções, a correr num campo de liberdade, de calções e perna ao léu. Sempre na esperança que, quando a velhice se distrair, aparece alguém jovem que me tire os calções e o mais que for, para provar que não envelhecemos.

Porra para a velhice. É um problema dela … porque nós não envelhecemos. 

Alegres e sem medo ! 

Os mais sortudos, tocados pelo Amor. 

O remédio para ir passeando ao lado da Velhice sem estabelecer relações íntimas com essa megera é: distância com essa bruxa agourenta, bondade para com todos, ter amor próprio e espalhar o afecto, o bem e o amor por quem nos é querido e está carente de nós.

Fugir de quem nos faz mal! Relações toxicas ou de extrema dependência  … não! 

Os velhos que se cuidem, a velhice que vá à sua vida - só pode regressar à minha terra, quando eu estiver para partir. O mundo é grande! 

Haverá, certamente, alguém como eu, que não envelhece e que me dará a mão, para partirmos a correr pelos campos fora. 

Sem comentários:

Enviar um comentário