Não encontro melhor nome para chamar ao estado de letargia e de distanciamento face à vida, às suas contingências e problemas. Um estado a prolongar-se no relacionamento com os outros... sobretudo, com aqueles que verdadeiramente importam nas nossas vidas.
Chegar a este ponto de frieza pura e de ausência presente é talvez como chegar ao nirvana, para quem sabe e entende o que isso é.
Está-se por cá, mas não se sentem as dores de viver...
Bom ou mau? Não sei, mas é um modo de estar, talvez com vantagens, talvez não. Uma maneira de viver em linha infinita, isenta de sensações, como o horizonte de um mar de paz, cinzento e seguro, imenso e azul.
A indiferença pode fazer a diferença entre a sensação de paz e a ansiedade.
Pode ser uma paspalhice chata, mas também um antídoto contra a inquietude, o amor, a dor de viver e todas aquelas coisas que nos desatinam por dentro. Coisas capazes de trazer alegrias e tristezas, coisas incertas, inseguras, surpreeendentes... para o bem ou para o mal. Perante a turbulência, a indiferença será a solução?
A indiferença é como uma espécie de férias (prolongáveis, se possível), um interregno, uma proteção contra o desgaste, contra os problemas, contra o medo, contra o futuro. A indiferença isola-nos, retira-nos do meio onde vivemos - agitado, fervilhante... perigoso até - e, assim, evita maiores dores.
É uma forma de branqueamento da alma inquieta, uma limpeza higiénica dos problemas e dos muitos tipos de vírus que a relação com os outros e com o mundo nos poderá trazer. Claro que se a desinfeção for muita, na água do balde vão também as paixões e as alegrias maiores.
A indiferença evita fleumaticamente os extremos - nem demasiado calor perante os afetos e a sorte, nem demasiado sofrimento para com os lados mais escuros da mente e da vida.
Ter uma camada protetora para minimizar os estragos tem como consequência não aproveitar a plenitude dos sentimentos.
A indiferença, como modo de estar, é uma espécie de preservativo - evita acidentes mas reduz o prazer
Será que a tranquilidade só é possível para quem grangeia uma certa maneira de viver o mundo, a frio e com distância?
Será que é preciso tomar como vacina a Indiferença para sobreviver nesta selva?
Indiferença traz distanciamento (real ou sentido) e pode virar esquecimento, a prazo...
Traz frio... congela corações ardentes. Traz quietude e o bem-estar do sossego, talvez...
É bom parar, olhar o mar e pensar, por pouco tempo que seja, que o mundo real está longe... que não incomoda e não é perigoso, que as paixões não existem e não magoam...
Que o mundo é cor-de-rosa...
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