sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Oportunidades


A vida é o resultado de um cabaz de oportunidades - umas aproveitadas, outras perdidas e outras que foram agarradas mas acabaram por fracassar.

É nesta mistura que está o segredo - ou seja, o segredo de um caminho harmonioso está em saber aproveitar bem os desafios e as novidades que nos caiem no colo, sem nunca desperdiçar as hipóteses de felicidade que surgem, sem ter medo de arriscar ao tocar nas mais complexas e...  sabendo transformar em experiência, em ensinamentos todas aquelas oportunidades que resultaram em projectos fracassados.
É deste equilíbrio - bastante desengonçado - que todos fazemos o nosso caminho, com mais ou menos sorte e sucesso. Sendo que a sorte também se fabrica... ou, pelo menos, pode dar-se um empurrãozinho nas circunstâncias para que aconteça....

Quem fica parado é que não pode queixar-se de falta de sorte... pois se deixou fugir uma oportunidade rasante, então a responsabilidade passa a ser exclusivamente sua.
O medo do desconhecido, o medo da aprovação social por parte dos nossos mais caros e o medo de não estar à altura de ser capaz de agarrar oportunidades e de as cumprir ou de, eventualmente, vir a fracassar, é o que leva muitos de nós a ficarem passivamente à espera que o caminho seja fácil e que "alguém" o resolva por nós.
O medo, sempre o medo que tolhe a ação humana e deixa tanta coisa por acontecer.

O medo do Amor, por exemplo, é um receio muito paralisante e comum. Pode tornar-se um estrangulador de felicidade, um torniquete frustrante e coarcivo que assusta um candidato a “amante” e “amador” e o deixa a leste do paraíso, por timidez, por falta de jeito ou de coragem.

Porque amar assusta, muito! Porque aceitar o amor, os seus compromissos e responsabilidades, a par das suas delícias, pode ser castrador e um emperro na engrenagem mental que é preciso pôr em marcha para essa geringonça que é o Amor funcione.
E pode ser tão simples e tão bom, quando surge nas nossas vidas, aceitá-lo de braços abertos sem ligar a mais nada, ao que os outros dizem ou pensam.

Nunca perder uma oportunidade é agarrá-la, abraçá-la sem largar, fundir os corpos e as mentes nessa ilusão que se chama amor e que, apesar de ser uma construção mental, existe.

Tu, ilustre desconhecido ou velho amigo, que por sorte o encontraste, não o largues. Deixa-te estar aí, nesse lugar mágico de todas as ilusões, enquanto durar. 

Continuem a construir com carinho e persistência, lutem por ele - o grande A - pois ele não aparece feito num pronto a vestir, faz-se por medida, à medida de cada dois. Continuem a badalar aos quatro ventos que o Amor existe e que quando vem é um deslumbramento!

Pode ser um vento suave, discreto e tímido, é sempre inseguro (vive a prazo, na corda bamba)... nunca se sabe à partida  se haverá fusão de entendimento douradoura, depois de passada a fase louca do fascínio inicial. Mas mesmo correndo esse risco, que todos os amores iniciantes correm, é excitante e romântico.

Saber que se está em equilíbrio instável, mas voar no meio da beleza, com riscos e com medos, é uma aventura que vale a pena.

O Amor é a única coisa por que vale a pena estar vivo, qualquer forma de amor... filhos incluídos, como é óbvio,

Mesmo o sobressalto de saber se é ele verdadeiro e correspondido, ou entender se a relação é exclusiva ou poliamorosa, mesmo quando há omissões (que nos podem parecer traições mas são tão só ausência de informação verdadeira, o que é diferente!), mesmo que haja em geral um que ama mais que o outro, até esse desequilíbrio dá graça e até solidez...
Apesar de tantos emperranços, amar vale a pena.

Não amar é que é uma tragédia. O amor é tudo o que interessa e tem valor real. 

Poder partir para um novo rumo - onde outras pessoas e espaços alargados de afeto nos esperam, com
carinhos e beijos que nos confortam -  é uma benção, o melhor que a vida nos pode dar.

Viajar é bom. Não é só conhecer lugares novos, terras, espaços e culturas diferentes, é também percorrer novos caminhos de afecto, de ternura, de calor humano, de famílias alargadas e coesas, de bem estar, de alegria, num clima bom de tolerância, porque haverá sempre uns chatos por aí, antipáticos e do "contra", que se atravessam no caminho.

Quem é velho e crescidinho como nós, já não deve ligar a pormenores. Contornam-se os maus e escolhe-se quem vem por bem. Garantido que quem vem por bem, está sem esquemas escondidos. Que só trás verdade, mesmo que essa verdade contenham um magote de “defeitos”... genuínos, claro.

Construir um novo  rumo, um caminho melhor de solidões vencidas, de paz conquistada, uma solidão partilhada a dois, um mundo seu rodeado por outro, que não belisca este “seu eu”.
É isto amor?

Eu acho que se não for amor, pelo menos é vida!
Aquela que é única e finita, e que deve ser agarrada com toda a força.  A única que vale a pena viver!
Á outra - que não é Vida -  chamo o sono dos tristes, depressivos ou sem coragem para ser feliz.

Quando fui nova tive coragem de romper com os obstáculos e ganhei o Amor a pulso . Não foi fácil, uma vida a remar contra quase todos, sem a aceitação familiar e a inserção social que tanta falta faz.

Quando depois de velha tive que optar, também recuperei a coragem suficiente para sair à procura da Liberdade... esperando que, com tempo, ela venha a criar espaço para um verdadeiro Amor.
Sonhar não custa! Haja força para lutar por aquilo que é melhor para cada um de nós .
Somos o centro da nossa vida sempre, mesmo que em certos caminhos nos juntemos a parceiros que nos trazem momentos felizes, que vivamos um pequeno, em vez de um grande Amor.
Este é um bem escasso, reservado a poucos e que tive a sorte de trazer no baú.
Por tudo isto, valeu e vale a pena viver.

Por tudo isto, é com um sentimento agridoce que assisto ao nascimento de um novo rumo, cuja carga amorosa espero que seja boa, gratificante e verdadeira.

1 comentário:

  1. Muito bem "desenhada" esta geometria do amor.
    "Saber Amar", um livro que li há alguns anos de Walter Riso. De factos, não sabemos amar e muito menos cuidar do amor quando ele nos cai na alma (colo).
    Gostei do que li e penso assim também.

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