terça-feira, 9 de julho de 2019

Sons





Beijinhos e abraços, sob a forma de som e de imagem. Hoje estamos rodeados deles, de afagos virtuais plasmados numa máquina qualquer, numa app qualquer... tocam e aparecem.


De que vale o carinho virtual, se o que precisamos é de pele?
Se o que precisamos no outro é o outro em direto e ao vivo. De um olhar, de uma presença, de um cheiro, de um estar mesmo calado, de um sorriso timidamente escondido atrás de um copo de vinho… através do vidro que tudo esconde e mostra… Olhar amorosa e discretamente, quando esse alguém pensa que não está a ser visto...
Translúcida realidade que se repassa no vidro, tão irreal quanto aquela que lemos numa mensagem. Ambas gostadas. Gostadas pelo licor derramado no coração... gostadas porque promessa de algo mais?
De que vale? De que vale o beijo virtual, não acontecido, desejado ou vivido? É bom ou será que até chateia o beijinho matinal ou a mensagem fofinha? O porquê das palavras que nada têm para dizer, só porque gostamos do som, só porque gostamos de sentir a alma do outro perto da nossa, mesmo que não diga nada de importante.

Porque há barulhos inúteis que não são ruídos, barulhos que são música sem notas, barulhos, frases, sons que nos enchem os dias de sol… toques que carregam palavras, mera imitação do verdadeiro toque...



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