segunda-feira, 8 de julho de 2019

O Gato









Ele há pèzinhos atrevidos que, sem se saber porquê, saem do seu lugar. 


Uma vez tive um gato assim... pèzinhos de lã, aparecia onde menos se esperava. Impunha-se com a sua presença, com o seu silêncio, de uma maneira estrondosa. Se gritasse, rugisse ou amandasse foguetes faria menos barulho... incomodaria menos.

Pois é, os pèzinhos de lã ou de sola que vieram por aí...
Pé de gato, de mansinho, roçando suavemente, inopinadamente... como se não fosse nada, como se não existisse matéria, como se fosse nuvem, inspiração, ar... como se eu fosse um zero e ele um conjunto vazio... Como se a matemática não existisse e em seu lugar o mundo imaterial tivesse a textura daquilo que se sente mas não tem nome.

O gato, posto em sossego, dormia no seu cesto, acho mesmo que dormiu anos a fio... 
Talvez em tempos, muito jovem, saltasse de telhado em telhado, pulasse do seu quintal e espiolhasse o da vizinha, quiçá à procura de ratitos mais gordos, mais interessantes. Mas cedo se fartou - acho eu, que não o tinha ainda nesses dias de outra era. 
Bem alimentado a ração de plástico (ou seria de serradura?...a mim parece-me sempre feita de palha ou de madeira a comida dos animais!), confortável e mimado pela antiga dona, o meu gato dormia... Quando apareceu na minha casa já tinha por costume dormir o dia todo, só abria um olho azul quando eu chegava e depois, enrolava-se, voltava a ronronar no cesto. 

Até que um dia esticou a pata e me fez cócegas no tornozelo.

Que se estaria a passar? Será que comeu uma chamuça picante e ficou bravo?... Fazia psseeii... parecia assobiar baixinho, esticavam-se-lhe os bigodes e dava uns saltos imprevisíveis... zás!
Por isso, me aparecia em lugares estranhos, escostava-se de manso sorriso nos olhos (se é que os gatos riem!).
Que estaria a pensar (será que os gatos pensam?).
Podem não pensar muito, mas certamente sentem... mais até que os humanos. Sentia concerteza o afago da minha mão sobre o seu pêlo, sabia que era sincero o afeto desse toque e quão importante era para mim ter ganho esse gato no meu cesto, herdado, achado já nem sei onde... mas que veio encher um pouco o meu lar... mesmo dormindo, quase sempre alheio à minha presença.

Que se passaria na sua cabeça fofa de gato? Nunca me o diria, nem eu queria ouvir... apenas sentir.

Na sua imaginação, 
talvez jogasse ao gato e ao rato...



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