segunda-feira, 15 de julho de 2019

Sexo













Sexo é a palavra mais chamativa que pode haver, para acordar um passante ou um leitor distraído. 

Ás vezes, é pura publicidade enganosa, apenas um engulho para apimentar o assunto ou despertar a curiosidade sobre algo bem diverso! Mulher despida vende carro e homem nú, coca-cola!

A gente chama Sexo a um texto, a uma notícia, a uma foto e ele é vermos chegar resmas de papalvos curiosos, salivando a expetativa de ler, ouvir e ver algo de picante, quiçá obsceno, certamente suscetível de lhes despertar os sentidos, gerar emoções agradáveis, criar fantasias maravilhosas, atiçar ideias mirabolantes.

O sexo é assim, tem este poder descobridor... inicial e iniciático. Uns mais interessados que outros, mas ninguém deixa de sorrir discretamente, ninguém fica indiferente ao potencial da palavra. 
Haverá alguns mais ausentes, mas as excepções serão poucas. Os indiferentes marcam aliás o seu lugar com uma sigla que os denomina no pacote do LG ...+, onde cabem tantos e tão diversos praticantes da coisa.

E no fundo, o sexo é a coisa mais natural que existe, elemento animal básico, presente ao longo do tempo de cada um de nós e dos tempos da Humanidade. 
É varíavel, consoante as opções pessoais, a idade, a cultura, os hábitos, o percurso de vida, as oportunidades de cada momento, mas desejável para a grande maioria.
E depois há tantas práticas prazeirosas - quentes e frias, loucas e calmas - que nos perdemos de amores por elas todas e queremos mais e mais novidade...

Ou talvez não, se calhar o melhor é ficar numa rotina de conforto sem desatino, investindo no prazer reforçado e redescoberto daquilo que é conhecido.
E pode fazer-se só ou acompanhado, com geometrias de acompanhamento variável e diversa, plural, poliamoroso, simultaneo ou sequencial, ligeiro ou coisa séria... legal ou irregular, fundado ou passageiro, light, very light... ou transcendente e luminoso. Vale tudo, há de tudo...

Há quem viva feliz com o que tem ou com aquilo que julga capaz de procurar/inventar e há os eternamente insatisfeitos, que buscam o "santo graal"do prazer absoluto, indo até ao domínio do absurdo... Esses - os atravessados de uma insuficiência latente que pensam ser um problema comum e não deles - são os feridos de um trauma qualquer que lhes gorou expetativas iniciais, fantasias e irrealidades formadoras de carácter, construindo um contrário que nunca mais se conserta completamente.
E há os que voam baixinho ... que aliás são muito parecidos com os anteriores, mas mais acomodados...
Pensam ingenuamente que o topo não existe, que não passa de uma mera fantasia potenciada pelos romances, pelos filmes e pela imaginação ficional de uns tantos doidos... Por isso, se acomodam felizes ao pouco que provaram e acharam bom, apesar de não esquecerem nunca a desilusão inicial.

Esses que acreditaram que a terra tremeria para eles ... e não o sentiram, mas viveram bons momentos, menos telúricos (não por azar seu, mas porque acham que o tal ideal não existe!), refazem a sua realidade fraquinha e reescrevem a sua vida como grandiosa... ajustando-a ao cenário dos píncaros. Nunca subiram o Everest mas têm um poster lindo dele na sala! 
Esses que afirmam convictamente: o topo só acontece na fição, quem disser o contrário, mente! Eu tive tudo, eu amei melhor, o mais não existe, era falso, era fição... 

Felizes de quem não imaginou antes de provar e aceitou na prova, o que a natureza e a vida lhe deram, de quem viveu o seu tempo, como se fosse o primeiro humano a sentir o prazer do sexo.

E felizes de quem viveu/vive e mantém a fé de que o melhor do mundo é o amor (com ou sem mais qualquer coisa...). 

Felizes ainda de quem sabe que só e apenas sexo também pode ser muito bom... que nem sempre fazem falta florzinhas e corações... que se pode ser primário, "brutal" sem ser bruto, total por ser cheio e que isso é bem agradável, se não for para todos os dias.














Algo ficaria incompleto, sem afeto! 


E agora penso como se pode ser tão racional e escrever sobre esta coisa, que é tão institiva e animal, tão espiritual e profunda, tão irreal e bela, tão intima e indescritível, tão pessoal e tão diferente para cada um?

Não, não se pode! 

Não se pode racionalizar nada assim... só viver é que importa! E se se escreve - porque ao longo dos tempos todas as almas inquietas, que escrevem como catarse, o fizeram - se se escreve tanto, é porque gostamos de partilhar com o próximo algo de muito importante, para alertar, para lembrar, para que toquem os acordes musicais de uma música maravilhosa que todos devem ouvir, e repetir e cantar... 

E a par dos poetas e dos escritores, outros também tocam, pintam e fazem arte com mais ou menos talento, mas porque precisam de sair de si.

Se contamos e cantamos é para que a mensagem voe e haja quem saiba como é bom... como é bom o animal e o deus que há em nós!

Para que o bicho sexo voe com asas de borboleta, para que os sonhos voem também e levem os corações às nuvens, para que as emoções nos salvem... 

terça-feira, 9 de julho de 2019

Sons





Beijinhos e abraços, sob a forma de som e de imagem. Hoje estamos rodeados deles, de afagos virtuais plasmados numa máquina qualquer, numa app qualquer... tocam e aparecem.


De que vale o carinho virtual, se o que precisamos é de pele?
Se o que precisamos no outro é o outro em direto e ao vivo. De um olhar, de uma presença, de um cheiro, de um estar mesmo calado, de um sorriso timidamente escondido atrás de um copo de vinho… através do vidro que tudo esconde e mostra… Olhar amorosa e discretamente, quando esse alguém pensa que não está a ser visto...
Translúcida realidade que se repassa no vidro, tão irreal quanto aquela que lemos numa mensagem. Ambas gostadas. Gostadas pelo licor derramado no coração... gostadas porque promessa de algo mais?
De que vale? De que vale o beijo virtual, não acontecido, desejado ou vivido? É bom ou será que até chateia o beijinho matinal ou a mensagem fofinha? O porquê das palavras que nada têm para dizer, só porque gostamos do som, só porque gostamos de sentir a alma do outro perto da nossa, mesmo que não diga nada de importante.

Porque há barulhos inúteis que não são ruídos, barulhos que são música sem notas, barulhos, frases, sons que nos enchem os dias de sol… toques que carregam palavras, mera imitação do verdadeiro toque...



segunda-feira, 8 de julho de 2019

O Gato









Ele há pèzinhos atrevidos que, sem se saber porquê, saem do seu lugar. 


Uma vez tive um gato assim... pèzinhos de lã, aparecia onde menos se esperava. Impunha-se com a sua presença, com o seu silêncio, de uma maneira estrondosa. Se gritasse, rugisse ou amandasse foguetes faria menos barulho... incomodaria menos.

Pois é, os pèzinhos de lã ou de sola que vieram por aí...
Pé de gato, de mansinho, roçando suavemente, inopinadamente... como se não fosse nada, como se não existisse matéria, como se fosse nuvem, inspiração, ar... como se eu fosse um zero e ele um conjunto vazio... Como se a matemática não existisse e em seu lugar o mundo imaterial tivesse a textura daquilo que se sente mas não tem nome.

O gato, posto em sossego, dormia no seu cesto, acho mesmo que dormiu anos a fio... 
Talvez em tempos, muito jovem, saltasse de telhado em telhado, pulasse do seu quintal e espiolhasse o da vizinha, quiçá à procura de ratitos mais gordos, mais interessantes. Mas cedo se fartou - acho eu, que não o tinha ainda nesses dias de outra era. 
Bem alimentado a ração de plástico (ou seria de serradura?...a mim parece-me sempre feita de palha ou de madeira a comida dos animais!), confortável e mimado pela antiga dona, o meu gato dormia... Quando apareceu na minha casa já tinha por costume dormir o dia todo, só abria um olho azul quando eu chegava e depois, enrolava-se, voltava a ronronar no cesto. 

Até que um dia esticou a pata e me fez cócegas no tornozelo.

Que se estaria a passar? Será que comeu uma chamuça picante e ficou bravo?... Fazia psseeii... parecia assobiar baixinho, esticavam-se-lhe os bigodes e dava uns saltos imprevisíveis... zás!
Por isso, me aparecia em lugares estranhos, escostava-se de manso sorriso nos olhos (se é que os gatos riem!).
Que estaria a pensar (será que os gatos pensam?).
Podem não pensar muito, mas certamente sentem... mais até que os humanos. Sentia concerteza o afago da minha mão sobre o seu pêlo, sabia que era sincero o afeto desse toque e quão importante era para mim ter ganho esse gato no meu cesto, herdado, achado já nem sei onde... mas que veio encher um pouco o meu lar... mesmo dormindo, quase sempre alheio à minha presença.

Que se passaria na sua cabeça fofa de gato? Nunca me o diria, nem eu queria ouvir... apenas sentir.

Na sua imaginação, 
talvez jogasse ao gato e ao rato...



quinta-feira, 4 de julho de 2019

Amor



Amor é palavra proibida,
Tão estafada,
Tão querida.

Proibida porque não se quer, 
não se aceita, 
porque é sinal de pressão ou de prisão, de liberdade perdida...
no coração de com quem se deita.

Amor é palavra acolhedora, deslisante e quente,
que não se sente... e, por vezes, se cala.

Entrego nas tuas mãos um legado desamorado, desfeito pelo teu temor e pela minha preguiça.
Cheguei à tua cama sem nada para dar ou para pedir.
Pedistes apenas pele e calor.
Dizes que foi pelo conforto, porque os sentidos em brasa queriam quem lhes desse calma.
Deixei disso um pouco... talvez, voltei com isso... muito, decerto.

Trazer ou levar amor continua a ser proibido.
Será que liberdade é nada proibir? Ou nessa regra do Tudo que a liberdade anuncia, existe uma exceção - o amor, única arma que a ameaça?

segunda-feira, 1 de julho de 2019

É Para Ti Que Eu Escrevo...


É para ti que eu escrevo.


Para ti que não sei quem és, que te pressinto algures por aí, escutando o som torpe de uma alma entorpecida pela sua própria ronquidão interior.

É para ti que não conheço, que eu debito estúpidas palavras de amor sem sentido nem destinatário, rudes desabafos de aborrecimento, raivas de desamor, queixas de solidão, alegrias de pequenos nadas ou de grandes amizades.

Sim, era contigo, aquele para quem escrevo tudo isto, era mesmo contigo que eu queria estar, ter-te aqui e agora... para lermos os dois, em conjunto, o que tenho para dizer e não sei escrever.

É para ti que eu escrevo - mal e atabalhoadamente - aquilo que não sei o que é, que nem sei dizer, nem contar, porque não existe fora de mim...

É para ti que não existes e que, se calhar nunca irás existir. Para ti, aquele que eu gostaria que houvesse fora de mim, aquele que invento porque não vejo, nem tenho, nem toco... mas a quem escrevo. 
Escrevo, escrevo indefinadamente sobre temas vários, a carta que te é destinada, que nunca lerás porque nem sabes que é para ti...
Escrevo a carta invisível que contém as mais importantes palavras do mundo, aquelas que exprimem tudo o que sinto e sei que te pode tocar.
Tu, alma insensível. Tu que não existes porque não me entendes. Tu que não lês as minhas cartas, os meus poemas sem poesia, os meus textos cheios de palavras inutéis, tropegas frases que não chegam ao céu, nem ao outro... que navegam no espaço virtual, congestionado do ruído das palavras escritas, ditas ou cantadas, nesse espaço onde a gente flutuante da "rede" tropeça sem querer.
É nessa nuvem anónima de pessoas comuns que tu te encontras e é lá que eu quero ser lida. 

Aí, nesse mar azul feito de gotas de água brancas, translúcidas gotas milimetricamente iguais que se podem transformar em coisa diferente -  num turbilhão revolto ou num calmo lago... aí, nesse mar, há palavras à espera de serem pescadas.


Mas terás de mergulhar porque as palavras boas, as importantes, não vêm ter contigo à superfície, não beijam docemente os teus pés molhados na beira-mar. Há que ir mais fundo porque é aí que elas dormem na escuridão fria dos oceanos, nas grutas submersas e desconhecidas, no assustador fundo dos animais mitológicos, dos monstros marinhos, da liquidez opaca do mar profundo. Aí estarei eu à espera que descubram as minhas palavras, aquelas mesmo que te são destinadas... e não encontrarás.
Porque os pescadores de pérolas são tão raros quanto as ditas.
Nem a poesia canhota é uma perola, nem tu és um peixe de águas profundas. Nem és peixe nem és nada, simplesmente porque não existes... o que torna tudo muito mais fácil e menos dramático...
Acabou-se... o mar fecha-se e eu vou para casa, vou até para uma alegre praia apanhar conchinhas... bonitinhas... dessas que existem mesmo e são tão alegres e fáceis. Aquelas conchinhas com que se pode conversar... que não sofrem os arrebates das marés, nem os sustos dos maremotos, que simplesmente sorriem quando uma menina pequena lhes pega e as traz para casa...

Enquanto tudo for a espuma da maré numa praia de um dia de Verão, enquanto a onda não nos arrebatar para o fundo de onde não se sai... gozemos o dia, o sol, a falta de ti, o lugar do outro, o outro no teu lugar (que não existe porque tu também não existes e se existisses não lançavas a âncora para fundear na minha praia).
Assim é tão mais fácil escrever, sabendo que não há quem leia!

Ser forte




"Quando o amor for a sua maior fraqueza você será a pessoa mais forte do mundo."

(Desconhecido)