Uma
luz difusa, sobre móveis escuros e pessoas de tons diversos, surpreende quem
ainda vem da rua com uma réstia de sol no olhar.
Rapidamente
se fica submerso naquele mundo diferente, amálgama de diferentes cheiros, que
cada banca oferece, babilónia de vozes sobrepostas ao tilintar da loiça e à
música ambiente… indistinta!
Miúdas,
todas lindas, todas jovens, pernas ao léu, muitos ténis, muitas sandálias…
Um
grupo de “ginjas” faz circular a garrafa de tinto, que desaparece rapidamente
nas gargantas, à mesma velocidade com que sobe o tom das gargalhadas.
Cheira
a alho, a cebola frita, a refogado bem português, apesar de sob o meu olhar só
existirem pratos com restos de pizza, certamente sem sabor nem cheiro.
O
velho e querido hambúrguer parece atrair o turista menos afoito a provar
petiscos desconhecidos.
Quanto
ao vinho, não parecem ser esquisitos, provam de tudo, partem do princípio seguro
de que é bom: branco, tinto, sangrias coloridas de frutos. Bebidas que os fazem
rir e tocar, distorcendo os corpos nos bancos altos, quase caindo sobre o
parceiro mais próximo.
Cevicherie,
local vazio, peixe crú não atrai cliente, mas cheirava tão bem… que
incongruência! Deve ser dos acompanhamentos, hum… provei pipocas de porco,
picantes e boas. Tudo apetece, mas não posso ficar.
Lá
fora dança-se e a música puxou por mim. Não é bem um jardim, mas um quadrado de
loucura saudável, ponteado de relva, tem um parque infantil e é um local de
devaneios e copos. O DJ abana-se ao som da música “disco”, enquanto uma criança
desliza no escorrega, indiferente ao som.
Cachorros,
pertença de um grupo de “alternativos”, cabelos com rastas e trapos a condizer,
são afagados por dois brasileiros de São Paulo, felizes por abraçar a pseudo-jornalista
que sou eu, que apenas queria saber porque não dançavam. Dizem que o mundo aqui
é igual ao Brasil, todos se querem divertir, ninguém liga aos problemas do
mundo, ao que é importante e grave para a humanidade. Somos iguais! – dizem.
Replico que a segurança e o à-vontade vivido naquele pequeno quadrado de
loucura talvez não seja possível em São Paulo. Procuram fazer amigos, já
conheceram muita gente nova – é o que querem, estão eufóricos cm o ambiente:
viver o prazer, amar os animais, viver a música e os copos.
Aquilo
que me parecia um lugar de feliz descontração – um pouco caótica e plurifacetada
– um divertimento a que todos temos direito, de repente parece-me uma
futilidade.
Há
guerras e desventuras, mas acredito que naquele grupo de jovens sentados no
chão, sem conforto mas com a alegria das cervejas em copos de plástico e
comezainas de aspeto duvidoso, poderá haver um cientista, um génio ou apenas um
bom coração capaz de salvar o mundo.
Sorrio
à felicidade dos outros, porque só gente feliz pode fazer algo de bom, por si e
pelos outros.