quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Saudade

 


“ Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já... “

Saudade é aguardar a espera, é antecipar a vinda, é ter prazer no passado bem vivido (reduto de amor e ternura imaginados ou reais), é ter esperança de repetir no futuro os prazeres antigos  que um espera alegre trará. 
É um erro pensar que tudo se poderá repetir igual, numa forte fantasia emocional. É estupido pensar que o que é bom perdurará para sempre, que se rejuvenesce, que se engorda de melhorias amorosas, que se acende na paz calma de um amor que volta sempre… e igual. 
É melhor assim, manter a ilusão cega e ingênua…aquela que nós dá breves momentos de felicidade… mesmo que no poço fundo e atulhado do lixo emaranhado da ilusão perdida  damos como provavel que não será bem assim. Sabemos que o igual não existe , que a evolução das coisas, das pessoas e dos sentimentos muda. Mas esperamos ingenuamente a constância da vida, a repetição das alegrias passadas, o antes-vivido intenso.
E é bom que assim seja, a dor da perda - transitória ou definitiva - a que chamamos saudade , torna-se um doce-amargo saboreado com aceitação e beleza. Doi mas consola.
Ter saudade de alguém é a luz da memória grata e a esperança de um retorno possível, gratificante e recordatório. 
Se não for possível, fica a pena em forma de recordação. Fica o capital de ternura guardada…
Aquece a alma e dizemos para nós mesmo - Tenho saudades… mas se não voltamos a sentir o mesmo, se a paixão foi fortuita e o amor sólido perdeu a chama e não é ressuscitável… ao mesmo guardei na alma uma joia. A riqueza de quem já teve tudo num breve momento de luz e de paixão, ou a fortuna de que sei dizer com propriedade : valeu a pena ter chegado aqui de mochila cheia, confesso que houve quem me estimasse, guardarei saudade e ternura. Porque vou rica - se passaram na minha vida pessoas marcantes e marcadas por mim, posso dizer que vivi.
E de todos os homens, um longo capital de partilha íntima de afectos levo quando morrer. Vivi!
A saudade da ausência se transforma em Presença, já sei que terei saudade à mesma. Porque se reciclam velhas vivências com a doçura diáfana da recordação dos antigos… dos bons momentos , seus ou alheios.
Porque até os amargos se podem restaurar, adoçar , serão menos intensos, talvez, mas podem ser dotados românticos, efusivos, discretos ou calmos .  porque em cada beijo renovado, em cada carinho repartido há o gozo presente real e a imagem idolatrada de um passado glorioso que a saudade emoldura. 
Quem vive bem com o amor que a saudade passada transporta e sabe saborear a doçura presente, encontrou o segredo de uma calma vida feliz.
Sabedoria de velha que quer construir felicidade todos os dias, aos pedacinhos … aproveitados em cada migalha que encontra, repartindo-a com quem a rodeia e ama ( mesmo aqueles que o fazem sem saber)!

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