Era um dia igual aos outros, de trabalho, de agitação, de pessoas simpáticas ou chatas, de sorrisos e de esgares de raiva, de telefones que tocam, de mails que chegam, de colegas que entram, perguntam e saem, de vida que roda… de doces momentos num telefonema especial, cabido entalado no meio da confusão, roubado ao início de uma reunião ou ao fim de um almoço… fugidio mas bom, íntimo, gostoso e que sabe à sobremesa que habitualmente não como.
É a roda dos dias… a máquina do tempo que passa, cujo ritmo
tento a apanhar para não ser trucidada na engrenagem da coisa…
Mas por muito que seja o esforço, a máquina é exigente e
complicada… traz muita sofisticação que não me é dado acompanhar, pequenos
nadas que complicam tudo…
E a roda, roda, roda… e eu tento correr qual ratinho no
cilindro redondo, tentando não parar, fazendo por acompanhar, correr e dançar
conforme a música que toca, para não desafinar, para não perder a corrida… aquela
corrida a caminho do nada… que todos sabemos ser o fim.
No fundo, penso que se conseguir rodar ordeiramente conforme
as regras da máquina, talvez me consiga manter no ar, na roda, algures por aí,
sem cair. Sobrevivência, chama-se a isto! Sobreviver é o que todos fazemos,
melhor ou pior. Sobreviver com alguma qualidade de vida, em paz, com afetos, com
uma base de aconchego familiar, com estabilidade amorosa (a qual sabemos que
não existe e quando aparece não é para sempre).
Importa é aguentar sem cair… Pura ilusão, na vida cai-se
tantas vezes…
Há que tentar, com ajudas ou por recurso aos recursos próprios
que escasseiam.
Hoje a ajuda foram os despojos do dia, de um dia de felicidade.
O resto de uma garrafa de champanhe - que serviu para comemorar um evento bom,
promissor de esperança e liberdade - esse resto que, em princípio, iria pelo
cano abaixo, porque ao fim de cindo dias estaria chocho, afinal estava bem bom!
Serve para manter uma réstia de alegria de viver, sempre dá uma ajudinha a
combater a tristeza que chegou sorrateira, neste dia de inverno, tão igual aos
outros.
Beber só, é triste? Talvez não. Pode ser um momento de
libertação, um espaço de reflexão. Sim, porque é preciso pensar, pensar muito e
com muita força. Porque se vivemos apenas a sentir … a vida dói. Pensar é como
despejar um copo de água fria sobre uma acha que arde na lareira, é abrandar o
fogo dos sentimentos e das emoções dolorosas, angustiantes que nos ocupam o
coração e, por vezes, se tornam viróticas alastram à cabeça e ocupam o espaço
todo. E não deixam dormir, nem pensar com juízo.
Um pingo de racionalidade é preciso. Pensar friamente, pôr água
no fogo transtornante, aceso na raiva, no ciúme e na insegurança…
Porque a vida é insegura e eu sei disso. É insegura, é um
lugar perigoso, sempre armadilhado para nos transtornar. Apesar de saber, nunca estou preparada para mais um confronto com a realidade que dói, com o
massacre dos sentimentos esmagados pela raiva, pela angústia, pela constatação de
que alguém nos quer mal…
De repente, o tal dia normal… com a colorida agitação de reuniões
e de mails, mergulha no abismo com um simples flash de informação que nos cai,
sem ser procurada.
A culpa é da tecnologia que nos despeja em cima aquilo que
não queremos ver, nem saber.
Eu bem tento fechar os olhos e esquecer, esquecer que alguém
me afasta do caminho, que larga mal-olhados e picos de raiva, só para marcar
terreno e desmoralizar quem está bem, tentando, até ao limite, ver até onde vai
a capacidade de resistência.
Uma mulher não é de ferro, mesmo quando finge que sim. Uma
mulher tem sentimentos e inseguranças que, nos dias difíceis, sucumbem às
provocações.
Bem sei que são pobres provocações ditadas pelo desespero,
mas magoam mesmo assim.
E preciso de muita racionalidade para me manter à tona, para
continuar a rodar na roda da vida, sem cair… sempre em frente, sem sair do meu
caminho, olhando o horizonte como um futuro de esperança e vivendo o presente,
que é único momento que interessa.
E no presente, eu hei-de vencer! E com força, hei-de
conseguir viver um “invernoempaz”.
Um “Invernoempaz” é o meu lema presente…
Um dia de cada vez, fazendo o que é certo, amando quem
achamos que sim, partilhando o que temos de bom, deitando o resto para o lixo…
Um inverno quente de aconchego e afetos, de paz, de
aceitação dos dissabores, de compreensão por quem sofre, de dádiva por quem
precisa, de alegria pelas coisas boas, pelos amigos, pelos livros, pelos
escritos, pelo sol que sempre espreita mesmo no inverno.
Eu quero um inverno calmo, sem gente a espalhar angústia no meu caminho, sem essa tormenta real-irreal que me faz vacilar, sem saber que há quem espere que eu caia... que me deseja de rastos na lama da angústia e da estupidez, onde tão facilmente me enterro...
Eu não quero ver, nem saber... eu quero esquecer as nuvens negras e as bruxas que largam sapos e penas, que ficam nos cheiros e nas almofadas moles, no trapo e no capacho. E na nuvem, na virtualidade do mundo virtual que nos comanda e come...
Não quero saber, quero viver!
Eu não quero ver, nem saber... eu quero esquecer as nuvens negras e as bruxas que largam sapos e penas, que ficam nos cheiros e nas almofadas moles, no trapo e no capacho. E na nuvem, na virtualidade do mundo virtual que nos comanda e come...
Não quero saber, quero viver!
Invernoempaz com ou
sem sol, mas com copos e companhia, com mimos e alegria… até mesmo com amor,
sim porque ele parece estar ausente, ter perdido o seu lugar central na vida de muitos de nós, parece que vivemos num espaço onde ele passou de moda…
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