quarta-feira, 2 de março de 2022

Maior do que nós

 


A Natureza - maior  do que nós!

Uma Primavera inopinada: chegou cedo, com surpresa e quase sem água. Afinal o Mundo mexe e avança ... apesar da seca severa, da guerra nascente, da doença má alastrante, apesar de tanta tristeza, de tanta maldade à nossa volta, mesmo assim, as arvores florescem de rosa, o chão, pisado pela minha solidão e choro, continua verde… indiferente ao meu sofrimento, alheado da desgraça dos povos sofredores, das pessoas moribundas e daquelas que para lá caminham. É tudo uma questão de tempo, de muito pouco tempo... vamos todos morrer...

E no entanto, do céu jorra uma luz de esperança, um raio lindo por detrás das nuvens, anunciando um novo dia, que se seguirá a este … tão angustiante.

E no entanto, mesmo sem água, as velhas cepas das melhores castas irão dar fruto e vinho, lá mais para diante, a seu tempo... num tempo em que muitos de nós já não estarão cá para o provar. 

A vida é tão injusta e tão pouco domesticável. A vida de cada um de nós, humildes e frágeis humanos.... porque a mãe natureza, essa mesmo domesticada, orienta-se bem...

Ao homem, ou seja, à mulher em especial (porque os homens têm maiores possibilidades para decidir o seu destino) só lhe resta seguir o rtimo da desgraça (ou da graça) que lhe cabe em sorte. 

Muitas mulheres nunca saberão que há um mundo de oportunidades e de felicidade que lhes assiste. Muitas passarão à face da terra sem nada saberem, para além do conhecimento empírico do nascimento e da morte, da "produção" dos filhos, da força bruta dos seus homens, da luta por comer e dar de comer aos seus, do sofrimento da velhice (sua e alheia) e morrerão sem nada. 

Todos morremos sem nada, aliás. Mas alguns (mais afortunados) vão levar memórias felizes, quiçá grandiosas, deixarão obra feita, um livro de notas onde acumularam amor, conhecimento e dias felizes, colecionarão pessoas, visitarão lugares, escreverão  livros,  inventarão ciência, ajudarão a dar vida ou a apoiar mortes, com conforto e ternura.

Dar amor é talvez a melhor herança que se pode deixar à pequena parcela de humanidade que nos é dado tocar em vida. Uma pequenina parte da humanidade, claro. 

Em geral, cada um de nós limita-se a dar amor à familia próxima, o que não é lá grande coisa! 

É talvez a atividade mais inútil que existe. Porque a família não celebra, não agradece, nem valoriza o bem que lhes é dado. Assumem que é natural. Uma mãe se for boa para os filhos ou para os pais não tem nada de glorioso, nem de heróico. Todos acham que não fez mais do que a sua obrigação. E, como tal, os outros só marcam as falhas, o que correu menos bem, os traumas dos filhos são sempre culpa dos pais (em especial da mãe). A vida em família é um livro de contabilidade que só tem "deve" não tem "haver".

O amor aos outros fora do circulo obrigatório deveria ser mais feliz, mais valorizado, mais livre e descompromeido mas, na prática, constato que também não é. 

Alguns homens não querem, negam o amor e a paz com medo da perda de poder e de suposta “liberdade”. Não podemos generalizar. Há pessoas boas, claro. Mas esta linha de pensamento é muito comum e traz grande infelicidade - confundir liberdade com egoísmo é fácil e é mau. Pensar que se pode vencer estando orgulhosamente só , porque isso evita a dependência é mau . E é estúpido, porque todos precisamos da solidariedade alheia. 

Descartar responsabilidades afetivas em nome da independência e da liberdade, não me parece que dê bom resultado. 

As sociedades humanas crescem tanto mais quanto maior for a solidariedade e entre ajuda forem possíveis e valorizáveis. 

As relações humanas - a uma escala mais restrita - melhoram sempre que a intimidade, a lealdade, a confiança são vistas como um valor. 

O princípio do “Cada um por si” não é uma solução saudável a prazo; pode dar uma ilusão de liberdade a quem o defende (supostamente o mais forte) mas um dia todos precisaremos de ajuda. A dependência afetiva ou mesmo física que um dia chegará,  com a mansidão com que cai a noite, talvez faça mudar de ideias, a esses “heróis” do orgulhosamente sós! 

Pode ser que um dia, esses empedernidos defensores da liberdade solitária percebam o valor dos amigos, da ternura e da generosidade do amor, 

A sociedade tende a criar relações doentias e complexas. Está tudo organizado para que a infelicidade dos homens, a maldade e a guerra prevaleçam sobre o bem.

Só a Natureza continua o seu espantoso caminho de flores cor de rosa e brancas, sem se perceber porquê, mas ainda bem que assim é. 

Ao fundo do caminho verde uma charca que contraria a falta de agua e que é tao util aos campos como aos homens.

A água é uma atração de vida e de fim. A água meio turva da charca resolveria tanta coisa. Basta pensar em Virginia Wolf, duas pedras em cada bolso e avançar lentamente pela charca dentro. Morre-se depressa, 2 minhtos é o máximo que se aguenta sem respirar e ainda se dá de comer aos peixinhos - a Natureza agradece.





 


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