quarta-feira, 21 de abril de 2021

Downgrading


 Ninguém gosta de perder! Hoje perdi quase tudo. Morri, qual borboleta, outrora esvoaçante e feliz, desejada e gostada, acabou o seu voo estatelada na pedra.

Deixou de poder voar, de sonhar, de amar, de dar o tanto que tem de si.

Houve um down grading tremendo, na posição relativa que ocupo, na constelação celeste dos amantes felizes, nesta galáctica de amores e de estrelas, onde aos poucos eu vou desaparecendo... A minha pobre e humilde estrela está a perder o brilho, a minguar, a zerar, a tornar-se quase invisível e afastada do sol-rei. 

No universo imenso e povoado de milhões de luzes felizes, vibrantes e amorosas... que falta faz mais uma estrelita moribunda? Há mais quem brilhe e a substitua, com garbo e competência. Há os astros novos que enchem a curiosidade de quem procura no firmamento, mais calor e emoção, mais vida, mais alegria, mais mundo.

A rotina de uma estrela apagada e chata, cansa. 

Depois de mim, virá quem melhor sirva o deslumbramento infinito, que o infinito universal comporta. E é tanto aquilo que o universo contém... imenso, eterno, livre e inesgotável...

Há sempre mais e mais para descobrir. Porquê ficar preso a compromissos espartilhantes e limitadores ?

Se a liberdade é um espaço e não um sentimento interior ... então faz sentido que essa liberdade seja percorrer o mundo, solitariamente... encontrando pessoas só pelo prazer de usufruir delas, como se fossem um bem consumível. Come, usa e deita fora. Pessoas não são para possuir, são para consumir.

Quem assim pensa, tem dificuldade em ver os seres humanos como seus parceiros e iguais, quem olha os seus semelhantes como objetos utilitários e descartáveis, vive desumanizadamente só. E não ama! Porque para amar é preciso emparceirar com um outro ser humano, tido por igual, para que a fusão aconteça.

É preciso que a noção de casal, de “coisa a dois”, qualquer que seja o estatuto que o subescreva essa parceria, seja concebível para essa mente solitária e independente. É preciso que conheça outra realidade: perceber que a dois ou em grupo, se podem fazer acontecer coisas boas , coisas que a sós não existem. Por exemplo, o prazer da intimidade , da cumplicidade, da entre-ajuda.

São maravilhas que a humanidade descobriu há muito e que tantas vantagens pessoais e sociais têm trazido aos homens. A solidão permanente no interior de cada qual, não faz crescer, nem dá prazer . Crescer a dois é melhor. Passear de mãos dadas à beira-mar é melhor do que separados pelo medo do compromisso, idiota e inútil.

Para esse tipo de gente, pessoas são companhias simpáticas ... como um cão. Se ladra muito ou tem sarna, abate-se.

Pessoas verdadeiras, amigos que nos trazem alegrias e tristezas, que nos pedem um ombro, para chorar, um afago de cura, só complicam, não interessam, são para descartar. 

Hoje fui deixada cair! Caí redonda num chão duro de pedra, cortante. Trauma que dói e não tem retorno.

Não há cedências. Nem tolerância. É cada um por si, não há pontes nem linhas de contacto,  a interseção dos conjuntos não ocorre, nem mesmo numa pequena zona de interseção ... um espacito onde ainda seja possível plantar uma rosa, que possa florir.

Não há espaço para o diálogo, para semear um pouco de afecto que possa florescer.

As portas fecharam-se numa teimosia irredutível.  

A negociação não é via, a tolerância não é instrumento para consertar o que parece não ter conserto. Resta-me aceitar as condições rígidas impostas ... ou talvez não! Resta-me a liberdade de partir.

Mais uma vez ouvi: “Quem está mal, muda-se”!

Firme e hirto na sua redoma , afastado do mundo humano das emoções, longe do mundo das pessoas com alma... apenas lhe interessa o prazer direto e egoísta.

Apenas recebe (coisas boas), renega as outras ... e não dá nada em troca. 

Nem um simples obrigada...

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