Vai-se a Belgais com algumas expectativas, mas encontra-se outra coisa...
Li isto em qualquer sítio e é tão verdade que não resisti a citar.
Porque é deveras difícil descrever o que se encontrou... ou o que se viu, menos ainda aquilo que se sentiu... para além do que se ouviu (Shubert).
Havia todo um ambiente sensorial envolvente e único, mágico, total... Diferente de um concerto, foi mais uma visita a casa de alguém de família, íntimo e requintado.
Total é uma palavra que não diz nada, mas com ela arrumo todo o turbilhão de sensações, de emoções que senti e para as quais nem saberia encontrar um nome. O nome certo! Todos os nomes seriam poucos, só serviriam para empobrecer o acontecimento.
Um evento que me marcou tanto que quando voltei só disse: ninguém devia ir deste mundo, sem ir pelo menos uma vez na vida a Belgais.
Na semana seguinte, ficámos fechados em casa, todos.
Nos dois meses seguintes, o ambiente ficou pobre, viciado e doentio. O confinamento social amoleceu-me a mente e a capacidade de gritar ao Mundo que existe Belgais!
Porque nós todos, nós e essa gente que não foi a Belgais, passou a só ver medo e morte, a sofrer, a desenrascar-se para não sofrer, a ajudar os outros quem podia fazê-lo... a tentar ser normal em letargia, a tentar trabalhar mais do que seria normal, a comprar o que não havia, a inventar alegria e música virtual, a encontrar amigos à distância de um clique informático, a fazer pela vida e a fugir à morte.
Música é vida, música há muita (tal como os chapéus...), mas Belgais só há um.
"Sobre o poder encantatório da música
disse Homero na Odisseia.
Era tanta a beleza, a doçura, o fascínio e o feitiço do canto das sereias que, para não correrem o perigo da atracção e da morte, Ulisses ordenou que tapassem com cera os ouvidos dos marinheiros e a ele o amarrassem sem possibilidade de fuga ao mastro do navio.
Era tanta a beleza, a doçura, o fascínio e o feitiço do canto das sereias que, para não correrem o perigo da atracção e da morte, Ulisses ordenou que tapassem com cera os ouvidos dos marinheiros e a ele o amarrassem sem possibilidade de fuga ao mastro do navio.
O belo abre a porta do que
normalmente, no meio da banalidade rasante, se não vê nem ouve. Mas, quando se
viu o invisível e se ouviu o inaudível e a sua beleza, tudo se transfigura e
reconcilia. Este mundo torna-se outro, sem deixar de ser este. Daí, a
exclamação de felicidade, que também os discípulos experimentaram, aquando da
transfiguração de Jesus: "Como é bom estar aqui!"
Sem comentários:
Enviar um comentário