quinta-feira, 14 de março de 2019

Pandora


Fecha depressa essa caixa, Pandora. 
Fecha bem, não deixes fugir o que de melhor nos foi dado. 
Dela podem ter voado tristezas e tormentas, que nos atormentarão na velhice e na doença. Pode até o mundo acabar, mas fiquemos nós, Pandora. 
Fiquemos, regressemos ao fundo da caixa, onde reside a esperança e, talvez ao seu lado, o amor. Porque um é o par da outra, esse é fição a que só a esperança dá corpo.
Funda e secreta embalagem da esperança, talvez a caixa pareça escura e vazia...
Só nós sabemos que, lá dentro, bem secreto, algo não acabou. Que no seu fundo sombrio, se acolhe um pirilampo de luz. Preserva-o Pandora. 

É a luz que nos irá guiar até ao fim, mesmo que esse fim seja algo que um humano não entende, nunca entenderá...
Venham filósofos e poetas, venham escritores ou analfetos pensadores, venham todos aqueles que pertencem ao humano pensar, ou seja, todos nós. Venham com a sua ignorância e percebam que no fundo, no fundo mesmo está o que realmente importa - a luz da alegria percecionada, - a esperança.

Dia cinzento é quando está escuro por dentro! Dentro de nós haverá sol, enquanto a esperança for claridade e farol.

O prazer da espera é afinal a garantia de uma caixa bem selada, a reserva de luz que jaz ali, guardada à nossa espera. 
E podemos esperar e esperar... indefinidamente esperar... por um comboio ou por um afago, por uma palavra ou por uma presença, pela amizade e por um copo de vinho... E ser felizes, assim...

Não nos cortem a esperança, não abras a caixa, Pandora. Guarda bem o que lá houver. É para mim, eu sei.

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