terça-feira, 13 de novembro de 2018

Sorte




A vida sempre me deu mais do que o sonho.

Sorte a minha?
Ou apenas sou pouco sonhadora e navego mansamente no mar do realmente possível?


Pragmática e terrena, se sonho tento alcançar o desejado. Evito persistir na busca de imagens sonhadas, de histórias por outros vividas, de romances lidos, de filmes fantásticos, de conversas sussurradas por marias, de sensações maravilhosas por outros contadas... Não embarco na ilusão.
Vivo o eu! Construo o meu próprio universo do desejável-possível. Do it yourself. 
Gosto de tecer o meu mundo com as minhas próprias mãos  e não vou comprá-lo ao pronto a vestir. Também não espreito as "montras das marcas" e das vidas glamourosas... pensando que felicidade é algo se consegue por aí, igualando os modelos de sucesso  e julgando que basta um jeitinho de sorte ou o Euromilhões. 
Não fico à espera que o sonho se torne realidade.
Vivo a realidade como um sonho, o melhor possível, de forma um pouco naif ...
Sem muita espiritualidade mas algum romantismo. Serei pouco imaginativa? Serei pouco ambiciosa? 
Talvez... mas tem corrido bem, tenho tido sorte... 
O melhor do mundo são as pessoas, os afectos, a alegria, o presente.
Se o presente for o sonhado melhor... 
Quando alguém (megalómano) prossegue um sonho extra-normal, avantajado, desmedido ... e a realidade não o segue, instala-se uma de duas coisas:
  - A angústia, o stress e a depressão, por se sentir imponente para realizar os seus desejos;
  - Uma vida etérea e abstrata, num limbo de irrealismo, num mundo de fantasia, por si criado, sem aderência ao chão que pisa.  Há quem flutue assim na nuvem cor de rosa que para si construiu e, ao fim de algum tempo, até consegue acreditar que essa mentira fantasiosa que a si mesmo conta ... é verdadeira!

O sonho! O sonho eterno que tapa a miséria do real.
É o refúgio daqueles infelizes a quem a vida deu menos que o sonho, ou talvez, de quem sonhou demasiado alto, ou ainda, de quem importou para si as paisagens de sonhos alheios.

São os que copiam heróis-modelos-sucesso... vão aos livros, às revistas coloridas, falam com a vizinha e querem igual... para melhor! 
Os que gostam de cópias falsas em vez de originais. 


Esperam sentir o chão tremer debaixo do corpo, fazendo amor deitados na terra, ao relento numa floresta, no espaço tenso da guerra civil de Espanha , num romance de Hemingway... e sentir tal e qual isso, ter a sensação mágica de um orgasmo telúrico num colchão do Ikea.  O tal sonho do corpo que treme com o magma da terra, caindo na desilusão ao verificar que o amor não é um filme, nem um romance, nem uma vida alheia.

É muito melhor do que isso! É a nossa vida, a única que temos, a melhor de todas.


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