terça-feira, 6 de novembro de 2018

Flores e couves para a sopa



Qual é a diferença que existe entre ter uma relação séria e praticar um relacionamento de encontros lúdicos?

São as rotinas e os atos de domesticidade que mais consolidam o elo entre duas pessoas, que lhe dão a cola, que por vezes se torna compromisso. Não são as festas... essas passam, o seu rasto de cometa louco, quando acaba, deixa uma memória doce ou um esquecimento desprendido. 

A diferença entre o sério e o lúdico está na intimidade verdadeira como contraponto ao gozo, à diversão, ao extraordinário.
Merda para as vidas difíceis, para o equilíbrio entre deslumbrar e fazer a sopa. Sendo que pode haver sopas deslumbrantes (e gostosas) que conseguem levar o deslumbramento do pobre deslumbrado ao ponto de confundir o brilho com o sabor das estrelas (Michelin ou outras).

Entre comprar couves para a sopa, seduzindo pela domesticidade e optar pelo contraponto que seria comprar flores, viagens e sonhos cativando pelo exotismo romântico ou pela excitação do fora do lar, o que fazer ?

Na vida tudo é confuso, caótico, de cores diversas e entendidas diversamente pelos seus atores. Tudo é incompreensão e distanciamento, tudo contribuiu para a longitude entre os seres que, naturalmente, pensam, sentem e amam de modo diverso.
Compreender o outro é tão mais complexo quanto desconstruir esse raciocínio de compreensão e torná-lo lastro de desamor.
É tão fácil desfazer um afecto verdadeiro e transformá-lo em nada... tão fácil quanto está próxima a intolerância do ódio.
Por isso, só a tolerância nos salva! Só a aceitação do outro, tal como ele é, permite a paz..
A paz esse bem inalcansável pelas almas inquietas. Esse bem que sem amor de nada serve.
A paz boa, não aquela que adormece, mas a que nos exalta, nos motiva a ser criativo e bom, a amar em segurança... sem moleza, com empenho.
A utopia eternamente perseguida ...
O triângulo desejado de amor-paz-segurança, irreal inatingível talvez, fonte de angústia porque se corre atrás dele e ele, num instante e sem sabermos como, vira  triângulo das Bermudas... perigoso.
Sempre o triângulo fatídico que não nos quer, que foge, que trama... porque há rochedos e tufões.
Impecilhos, impecilhos e mais tormentas.
Porquê?
Eu quero o mundo todo para brincar, passear, andar, voar e amar ... sem entraves, sem pedras no caminho.
Eu quero um mundo onde possa seguir em frente, dar o tanto que tenho para dar... sem estar constantemente a ser coartada em prosseguir, recebendo golpes na minha criatividade e desejos... São tão honestos os meus desejos, tão simples, legítimos, bons... porque não posso então andar?
Nem dormir...
Presa na liberdade que criei para mim e não me chega.
A liberdade não existe, há demasiada gente neste mundo para que todos possam ser igualmente livres.
Há engarrafamentos de trânsito, esbarramos uns nos outros e não damos passagem a quem quer correr mais depressa.
Vou continuar a correr, a caminho da utopia do triângulo, sabendo que vou tropeçar em muitas pedras e que vou cair, levantar-me e provavelmente voar para uma ilha menos povoada e mais calma.
Preciso de parar o sofrimento desta corrida atropelada, de mim comigo mesma e com os outros que não me merecem...
A liberdade que criei para mim, realmente não me chega!



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