terça-feira, 15 de maio de 2018

Viajar





Viajar enquanto lugar de reflexão, porque é de caminho que se trata, de pensamento orientado, na busca do que vem a seguir...
Viajar é ir e ver. Ver com todos os sentidos alerta... sendo que todos são igualmente importantes nessa busca... 
É sentir a alma dos lugares... e arrumar a nossa no sítio certo... 
O tal sítio certo que tanto pode ser ali como noutro lugar qualquer, que umas vezes se encontra e outras não. 
Viajar exige movimento, meio de transporte, vontade, necessidade, curiosidade e alegria de viver. 
E, sobretudo,  inquietação!
Pois se inquieto é o estado de quem não está quieto... não é isso mesmo o que faz o viajante? Sair de si mesmo à procura do mundo, porque carece de um rumo, porque tem fome de movimento, porque precisa de aprender e de se surpreender, não sabe o caminho... e precisa de um barco que o leve por aí.


Uma gôndola parada à noite é uma promessa de rumo, ainda não é a viagem mas o início de um despertar ...


Mas o caminho, faz-se acordado, de dia, de olhos bem abertos à vida... seguindo em frente. Viajamos para nos sentirmos vivos, para que a emoção nos surpreenda... Mesmo que se viaje quieto, dentro de nós, de olhos nas coisas, na natureza, nos outros humanos que circulam por aí e que viajam perdidos como nós.
Gosto dos que não sabem bem o caminho, mas não desistem de o procurar, não desistem de encontrar as emoções de um lugar novo, de um quadro velho, de uma escultura partida. Gosto de quem segue a rir sem saber porque o faz, de quem ri apesar de perdido, mas sem vergonha de continuar a procurar o seu rumo, tal como a gôndola de quilha empinada, altiva, certeira ... aparentemente... porque até pode encalhar na próxima curva do canal. Mas vai...


Sabemos o que é ter fome de carícias, sabemos tão bem a falta nos pode fazer a sua falta. Porque será? Porque desejamos um beijo, um abraço, gente que goste de nós, gente que goste que gostemos delas? A resposta está na emoção esperada...
É tal qual como com as viagens - buscamos o toque da emoção, da surpresa, do afago emocional, intelectual, da novidade, da beleza, da diferença...
Uma emoção que até pode ser conhecida, experenciada ou, pelo contrário, ser simplesmente sonhada, uma fantasia ou um absurdo. Mas é a emoção que buscamos...
Tanto nas viagens, como nos afectos... procuramos o que mexe connosco, procuramos o que nos mate a fome, o que nos preenche as faltas e as falhas. Remendos!
Sim, remendos para consertar buracos da vida, a fome de conhecimento. Buscamos encontrar o que falta conhecer. E há tanto ainda para aprender!

Precisamos de sentir a arte, tanto quanto gostamos do suave toque da nossa pele na superfície de outra pele gostada. 
Procuram-se lugares como se procura o amor. O qual - como sabemos - não se procura, encontra-se!
Marcar uma viagem é como comprar um bilhete de lotaria, pode ser que saia. Porque quem não procura, não encontra. Quem não arrisca a viagem pode perder a oportunidade de ganhar...a sorte, a emoção.

Fui à procura ... porque ir é dar mais um passo a caminho do futuro e o futuro está sempre um passinho à nossa frente, mesmo ali, logo a seguir...

Fui viajar porque não se pode parar... e o tempo corre, mesmo que fiquemos parados. O tempo corre, sòzinho, não espera por nós.
Viajar é andar ao ritmo do tempo, para que o futuro não nos fuja.  
É um modo de não perder o passado, conhecê-lo, amá-lo, vê-lo com outros olhos, com o olhar do presente... porque o presente é tudo quanto existe de certo e de seguro.


O presente é a casa onde moramos... 
Olhar para as casas dos outros, daqueles que nos antecederam, ajuda a focar o "aqui e agora" e pensar que o lar é onde está o nosso coração...






Sem comentários:

Enviar um comentário