sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Sol e Lua



Há uma energia cósmica que espera por mim. Todos temos, nesta terra tão terrena, direito a um pouco do pó das estrelas, à nossa quota parte de transcendência universal... talvez ao pirilampo de luz que sobrou do rabo daquele cometa, que rasgava o infinito no exato momento do nosso nascimento.

Trespassou a nossa existência sem o sabermos, E assim, umas migalhas de brilho ficaram guardadas, no banco dos bens (cósmicos) doados, pronto para acudir aos mais carenciados, aos que precisam de sol e têm fome de alegria, aos que sonham com o sossego e a paz de uma noite de luar, aos que exigem às estrelas ideias que brilhem e se convertam em trabalho, em progresso para si e para os outros. Para quem precisar e tiver fome de bens cósmicos, eles estão lá à nossa espera.
Não sei onde... mas devem estar.
Gente normal vai ao tal banco e recolhe as suas migalhas transformando a energia cósmica em virgens e santos, em religiões e seitas, credos ou bruxarias. A transcendência e a espiritualidade sempre presentes na vida dos homens, que procuram infinitamente de uma explicação para o Infinito...
Gente especial transforma essa energia em amor!

Tentei saber como lá chegar - ao tal banco do pó estrelar - como obter as nano-partículas do "meu" Universo, como fazer para ir ter com o sol, com a lua e com as estrelas que eram minhas por direito próprio. Sonhava descansar na imensidão celeste, adormecida e acordada numa lua qualquer, docemente embalada pela brisa da noite. 

Imaginei-me sentada numa lâmina de quarto crescente, pernas penduradas a baloiçar, cabeça encostada no ramo mais luminoso, lunática e feliz. 
Certa de encontrar a paz na noite escura, no meu encosto lunar, algum brilho passaria para mim... lunática e feliz... lunática e dormente... lunática e esvoaçante. 

Difícil de alcançar esse lugar etéreo onde me sentiria bem. Continuava sonhando... lunaticamente, mas os pés não me saíam do chão. 

Ora bolas, eu não voo, tenho de ir à lua, mas como?
Procurei destino e meio de transporte adequado, no comércio tradicional. As transportadoras rodoviárias - mais conhecidas por camionetas da carreira - interrogaram-se incrédulas sobre o meu pedido. Conheciam vários locais onde havia bancos de bens doados, bancos alimentares, de roupa ou de tarecos. Mas de pós cósmico e de estrelas a granel, não sabiam. Estrelas havia muitas mas de papel, de plástico num armazém chinês, sobras do Natal, ali para os lados da Abrunheira. Quanto à Lua tinham duas alternativas à minha escolha - o Monte da Lua no Alentejo e os Parques da Lua em Sintra, seria coisa simples arranjar bilhetes. Mas não era isso que eu procurava apetecia-me algo de diferente...



Quanto às agências de viagens, mais finas e habituadas a clientes excêntricos, com pedidos sofisticados - não se atrapalharam com o meu pedido, disseram logo que sim, evidentemente. Asseguravam viagens para qualquer destino, bastava aceder aos grossistas ou às plataformas turísticas à escala mundial onde se pode encontrar ou mandar "produzir" qualquer pacote de viagem, por mais complexo que seja. O ramo das naves espaciais tinham lista de espera, mas não era de todo impossível.

Os pedidos que os incomodava um pouco mais - se bem que não fossem raros - eram para a Suiça, para os tais "hotéis" de decoração minimalista, clean,  de serviço rápido e eficiente. Sim, esses mesmos... de onde se entra e não se sai, ou se se sai aconchegado num pequeno pote.

Sem ninguém que me leve à lua, resta-me esperar.

Sou uma lua nova, apesar de caminhar para velha, nova porque escura e apagada, parda do outro lado do universo... sem sol.


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