quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Ciúme




... e saber onde esteve, para onde vai, com quem e porquê...
Não, ciúme não é nada disto!

Ciúme é ausência!
Pura e simplesmente vazio. É um buraco, enorme ... que se alarga à medida que a dor se instala. Um buraco sem nada lá dentro, que cresce, abrindo-se qual cratera de vulcão... sem chama nem lava.
Que queima, tal como a terra de um vulcão recentemente extinto, calado mas presente.
Um grande buraco no lugar onde devia estar o amor, mas não está! Porque esse fugiu, talvez porque o deixámos partir... sabe-se lá para onde. Um buraco de insegurança e desamor.

Um vazio que, no entanto, poderia ser preenchido...
Poderia talvez ser preenchido com saudade, a qual também dói mas sempre é uma dor melhor do que o ciúme. E tem cura, a saudade!
Basta esperar... retomar a ligação, aproximar corações, partilhar ausências como se presenças fossem.

Ciúme é um disparate enorme, por ser uma coisa sem existência real. Um vazio inútil. Se pensarmos que há tanto para meter no buraco, tanto amor por aí perdido, tanto trabalho bom para fazer, tanta gente para gostar... 

Porque não dispersar o ciúme, convocando todos aqueles que podem encher esse vazio de afectos?
Porque não aprender a partilhar em vez de exigir exclusividade? Porquê esse apego aos bens seguros, quando a vida é feita de insegurança e surpresa? Bem sabemos as pessoas passam nas nossas vidas. São livres de ir e de vir, de gostar de uns e de outros... Não somos donos de ninguém.

O que fazer se ciúme é desejar o que não se tem, porque se perdeu? Ou querer só para si o que legitimamente não lhe pertence ...
Como curá-lo então? Não possuindo nada... Sim, é essa a solução. Quem não tem a propriedade não a perde. 
O usufruto dos afetos preciosos é transitório, como tudo na vida... Talvez a solução seja dar, livremente, acreditando que é uma concessão por um momento, de passagem, para que outros beneficiem do mesmo que nós, porque é bom.
Porque gostar é dar. E ao dar, ao partilhar, o ciúme talvez se esbata...

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