sexta-feira, 17 de junho de 2022

Paleta de cores



Se fosse meu, o sonho desta noite , 
seria um bem, bem meu, apreciado, 
seria um sim, 
Teria sido dado ou talvez emprestado…

Mas o sonho desta noite não é meu, nem é teu, nem de quem o habita, preenche ou enche… de luz ou de sombras, de coisas reais por imaginadas.

Se fosse meu, eu pegava nele e dormia, se fosse meu eu dançaria com ele sob a forma sem forma que é a forma que todos os sonhos têm, flutuando na sensação de que são ar.

 Se fosse meu, eu sonhava o meu sonho todinho, sem parcimônia, como se de coisa minha se tratasse e acordava a sorrir, ou acordava esquecida - que é o que acontece aos sonhos bons das pessoas em paz.

Ou não acordava sequer… surpreendida talvez por ter chegado a um lugar sem sonhos, nem meus nem dos outros, um lugar de nadas, nem de trevas nem de pesadelos. Um lugar sem cores, onde seria impossível pintar o meu sonho de cor de rosa, aquele que não tenho mas tanto queria abraçar … onde estaria mais longe ainda, na distância do impossível. Pois se os sonhos são imateriais, não se pintam nem se abraçam …

Cairia naquele buraco para além da vida, sem sonhos, sem insônias,  sem gente … e sem ti, que te infligiste a decisão de ser azul, não ter sonhos muito menos rosa.

No entanto, mesmo quem dorme na placidez do mar e sonha que não tem alma, vê no fundo desse “qualquer coisa”, bem lá dentro, um som que clama e tem cor, riscas coloridas … umas mais berrantes, outras em tom pastel… mas uma cor de cada vez, sem as misturas nem as exaltações que, às vezes, as cores gostam de ter quando se emocionam, agitadas e baralhadas pelo pincel no sua paleta confusa e suja. 

Quem nega o sonho se julga mais calmo, na superfície, desconhecendo ou fazendo-se esquecido da vivência na caverna do inconsciente, bramindo às escuras nas noites sem sonhos e sem luz, sossegadamente, fingindo que os sonhos não existem… mais vale negar por cautela, não vá as cores e as emoções acordarem, se entusiasmarem e se vingarem da palidez do pastel. 


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