domingo, 3 de janeiro de 2021

Paz e Rotina

 Rotina, horas certas para cada coisa, as mesmas coisas feitas às horas certas.

Tão bom, quanto seguro. Tão mau, quanto tem de chato, descriativo... 


A Paz é daquelas coisas com que todos concordam e apreciam, mas raramente abunda na quantidade desejada. Exceto nos concursos de Miss Universo, para onde todas aquelas belezas maravilhosas transportam carradas de paz, vindas diretamente dos respetivos países. Parece que combinam entre si - vindas dos países pobres ou ricos, dos países que estão guerra ou daqueles onde impera a corrupção, dos países de velha cultura, a par dos de grandes inovações, progresso e tecnologia... todos parecem ambicionar e encomendar às suas belissimas representantes um apelo de Paz, como se esse "El dorado" fosse ainda mais importante que a beleza, que ali se disputa.

A Paz, mundo maravilhoso de harmonia e felicidade, não existe. Se pensarmos bem até cheira um pouco a pasmaceira... se ela nos amolecer por dentro... Porque entre a paz mundial tão desejada e nobre e a paz individual vai uma grande diferença. A paz interior, adormece ...

A paz interior pode matar a criatividade e a alegria, o desafio de viver, o grito de orgulho de quem supera dificuldades e sorri... Tão dificil articular valores e projetos, quanto saber dosear a paz e não cair na rotina. 

A rotina é feiosa, pouco desejada, mas lá no fundo é um lugar de conforto e de segurança. Descansa a alma saber que tudo fica igual, hoje igual a ontem, a casa no mesmo sitio, o marido original, a roupa nova igual à velha, que se gastou de rota e foi substuida por trapo idêntico, talvez mais moderno mas com idêntica funcionalidade. A rotina é prática e normal, como se a normalidade fosse a onda mais certa para surfar a vida. Igual, igual... pacificamente neutra, conhecida, Sem riscos, para além dos acidentes exteriores a que todos estamos sujeitos - uma doença, uma morte, um emprego que se perde, um filho que nasce, um novo amor ... Quebras na rotina que nos fazem despertar - para o bem ou para o mal - são o que nos fazem sentir gente!

Porque só na mudança se acorda.

Porque queremos uma pacífica rotina de sossego e de amor eterno, quando sabemos que não existe? Viver na mudança, cansa. Viver sem paz, viver em permanente sobressalto interior desgasta (e por vezes deprime). No entanto, é nestes altos e baixos que nos revelamos. É sabendo que a paz nem sempre é o estado permanente e perfeito, que procuramos inovar, provocar, chatear o próximo, encontrar lugar para quesílias e pequenos ódios, intrigas e invejas... que quebram a paz. 


As rotinas boas não duram sempre, porque alguém ou circunstâncias exteriores nos vêm importunar... e nós reagimos às provocações e estamos naturalmente disponiveis para a guerra...quando nos tocam nos pontos sensíveis.

O que pode quebrar esta paz? Os fantasmas interiores ou as bruxas exteriores?

Todos, todos ao mesmo tempo são capazes de provocar a guerra, a guerra fria, latente que espreita o mundo da politica e o mundo pessoal, da mente em ebulição.

No meio da paz e da rotina surgem nuvens negras, cinzentas, rosa... ou podem até chover lágrimas. Não é o caso de hoje. Hoje acendo uma vela imaginária à boa rotina de uma lareira quentinha. Brindo com champanhe à vida. E apetece-me oferecer uma rosa, cor de rosa amor a quem não me ama.

Hoje estou em "in the moode" miss qualquer coisa, feliz por uma paz que não é minha, mas faz de conta. Afastando probleminhas que rolam da minha cabeça para fora... como se fossem pérolas de um colar valioso que se quebrou e derramou as suas pequenas bolinhas, pelo chão... saltitantes... 

No fim de contas olhando para as pérolas rolantes no chão de mármore, fazendo plic ploc... assalta-me a dúvida: 

Será que o probleminha redondo era verdadeiro ou falso? Tal como as pérolas... nunca saberemos.






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