quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Lágrimas


Que as lágrimas que se choram agora, possam um dia ser um sorriso … e que esse sorriso seja de sol, seja entendido como sinal de bondade e de afecto, sem comportar humilhações, nem derrotas, nem mágoas, porque no fundo somos todos seres humanos . 
Porque como sabemos, haverá sempre dias de chuva e de sol… e subsiste a esperança, a fé certa de que o amor prevalece sobre as lágrimas. 

Todos temos sentimentos e quando se trata de pessoas boas, livres e iguais, em crenças e valores, que se conhecem bem ou, pelo menos, que o suficiente para ter uma intimidade sadia, não é preciso demonstrar nada, nem de se afirmar em superioridade, nem de esconder defeitos, nem de fingir qualidades. Ninguém é melhor que ninguém.  Cada um tem os seus talentos, que são naturalmente diferentes. Se houver boa-fé e valores sérios, cada qual vale por aquilo que é, pelo que dá e pelo que faz.

sábado, 14 de setembro de 2024

Tempo sem Métrica



Chegaste sem avisar.
És tão antigo quanto o tempo. 
No tempo que recordo, 
quando assento no caminho e acordo, 
és tu que habitas essa memória.
Só tu és o tempo e a glória,
só tu és o tempo em que me fui embora.

Hoje sei, de consciência plena, que só o momento existe,
que a felicidade são segundos, são minutos profundos, 
saboreados na sofreguidão da eternidade, noção que em nós loucamente persiste.

Na ilusão da perenidade, não sabemos a idade do tempo, não sabemos nada…

Os problemas chegam, resolvem-se se e passam.

Quanto às pessoas, poucas importam - as raras que valem a pena, podem não ser aquelas que por nós se interessam. É pena!

As crianças que, um dia embalámos e julgávamos nossas, não o são. Nunca o foram. Eram delas, nasceram no passado e não sei onde estarão no futuro. Futuro que também não existe!

Depois de morar tantos anos neste lugar chamado Terra, o futuro é uma língua de areia à beira-mar da velhice e da morte… 

Tudo é relativo, transitório… e já nada devia ser importante, nem necessário. 
Na velhice, que se aproxima e para mim cedo demais, nada mais me deve incomodar. É deixar andar.  

 O melhor remedio para a solidão e para o desamor é o desprendimento das coisas, o deixar correr a vida sem nela participar… o contentar-me com a miséria dos dias tristes e alegrar-me com as migalhas boas que me caiem no colo… cada vez menos…

Penso no tempo do antes e não te vejo lá, porque, hoje, é como se sempre estivesses estado cá.

Olho este tempo presente como uma paisagem estática: a vista de uma mesma janela, sempre igual, mudando de cor segundo as regras das estações e os caprichos da natureza.

Só tu estás lá, presente. Ou ausente. Por vezes, num tempo de bruma, esbatido por detrás de uma cortina de chuva intensa, outras num dia de sol, quase invisível pela luminosidade imensa, que cega e ilude… mas estás. 

Pensava em ti como uma paisagem eternamente presente, apesar da inevitabilidade e imprevisibilidade das ausências, num certo desprezo desinteressado, que associava ao caracter fleumático, à falta de jeito para lidar com o calor humano… 

Ás mulheres que seduzias, mentias.

Fazendo de conta que não te “tocavam”,  fingias não te prender, com medo de te perder. 

Tudo isto eu vi, há muito, com a doçura e com o jeito de quem te tem no peito. 

Julguei ser feitio, defesa própria, acto heroico para manter a liberdade, a bandeira do amor nunca içada, desprezada, pisada, coração sem tecto, bloqueado ao afecto, na crença de evitar compromisso. Mas, não é  isso!

Enganei-me. Hoje sei que te prendeste a ti mesmo e a mais ninguém. 

Por não  te queres prender, estás-te a perder.  Finges uma falsa liberdade, finges que és autônomo, livre e não precisas da solidariedade e da amizade alheias, mas sabes bem que gostas de mimos com jeito, que não és indiferente às imanências de uma fêmea e à paz viva do seu leito.  Manténs o calor do corpo e o gosto do afecto.  Queres o toque de uma qualquer pele … quer saiba a goiaba ou a mel. Qualquer uma que venha com o vento… porque nunca dormes com uma mulher mas com Tempo.

Precisas de amigos , que provavelmente vão desaparecendo… É a lei da vida. Refugias-te na família de sangue, como forma de fuga, com medo de seres tomado por outros afectos, para não teres de dar nada de ti … como se tu fosses eterno e os demais simples humanos mortais, que vão primeiro para o além dos lindos quintais. 

Mas um dia descobrirás que  todos se vão e estarás só, sobram talvez os mais novos que, se calhar, te estimam um pouco ( e são cada vez menos). Nesse dia, sentirás a falta de afecto de alguém próximo que te estime de verdade. E aí a verdade poderá revelar-se travestida de mentira…

Não sei quem será esse alguém, se existe ou está para vir, porque pouco sei sobre o teu tempo… Só conheço o tempo antigo e solitário que é o meu.

Nele, habitas um espaço que não tem passado nem futuro… que é só momento, molécula da vida, finita e, por vezes, doente. 

Um chá de bondade, com sabor a paz, alegria com um toque de mimo reprimido é o segredo para a saúde, que ofereço e desejo.

É este o meu tempo, o único que tenho e onde te tenho.