quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Mar e terra



Sete vezes o mar vem e volta.
Em cada onda uma promessa , a esperança que galgue o
Infortúnio.
A esperança que galgue o areal assoreado da ribeira e com ele o peixe nosso de cada dia.
Que seja desta! Que seja desta que a onda desfaz a resistência da terra empedernida e fria. 
Que seja agora ao fim de mais sete voltas da terra ao sol. Que o mar atrevido e enfeitiçado pela lua cheia, nova e diferente porque plena de alegria, rebentando da paixão efusiva de quem está mais perto da terra e por isso especial . Que a superlua desses dias de pesca e afastamento feliz se amande atrevida pelo artesão acima e entre na ribeira choca, com toda a sua prenda. 
Que traga peixe e amor.
Que a onda fique suave e doce. Que venha calma após o luar faiscante de agosto, que venha meiga, em flor e me abrace… memória de velhos tempos. Tempos em que molhar os pés ou sofrer os salpicos de sal eram os beijos mais desejados… ou que me levavam à lua, lugar donde demorava a retornar à terra.
Agora basta a felicidade mansa de um rebolar entrelaçado na areia, um por de sol de fogo , um abraço ligeiro e deslacado, mas recebido com o calor de sempre…
É essa a felicidade e a sabedoria da velhice. É essa a solidez da amizade. Que nunca a perca, que eu saiba sempre tirar das circunstâncias da vida o que de belo resta para fazer o melhor do tempo que me resta.
Adormeço na mansidão de um toque quente, no sonho de um beijo sério…de fogo, de horizonte eterno.