segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

A mulher, a amante, a amiga e a concubina



Em tudo existe uma hierarquia. 
A ordem das coisas, das sociedades, dos exércitos e das agremiações diversas carecem de postos, de títulos, de dependências e de uma fileira de ordem (crescente ou decrescente), precisa de disciplina e de organização, porque só isso garante o pleno exercício do poder.
O homem tem dificuldade em aceitar a igualdade e a liberdade, a sua ao mesmo nível da dos outros. 
Quer se trate da igualdade perante as mulheres, quer mesmo perante outros homens seus semelhantes mas mais fracos.
A solidariedade “inter-pares” até funciona, mas com as suas regras e desde que se respeita a superioridade da “tertúlia”, do grupo ou do gênero, perante outro grupo mais fraco, mais passível de ser pisado.  
Um homem precisa muito de ver uma ordem estabelecida , que lhe garanta o poder e, também, que este esteja arrumadinho no pelouro certo e inquestionável, naquele que seja seguro e propício à manifestação da sua vontade, de modo a que não haja opiniões conflituosas ou entraves aos seus interesses. 
O homem gosta de se relacionar com quem não ofereça luta , sobretudo se for alguém do sexo oposto… gosta de um lugar certo e seguro, onde se consiga posicionar com paz e sossego.
A menos que seja um tipo “belicoso”.
Mas o normal é preferir um clima de paz, onde a sua opinião prevaleça, onde possa mandar sem esforço, onde possa fazer-se obedecer … e quem estiver mal que se mude!


Nas relações com as mulheres é igual. Gosta de variar (quem não gosta?) mas espera que a mudança se faça dentro de uma hierarquia própria, que lhe seja propícia e conhecida… 
Quer tudo, enfim!
Quer que as mulheres se posicionem a seu belo prazer e assumam o papel conveniente … conforme a época e o contexto.
Claro que a vida dos sultões era mais fácil. Agora com esta “mania” da igualdade de gênero , os homens veem as coisas um pouco mais complicadas.
Mas a hierarquia desejável mantém-se a mesma:

1 - a mulher (a chata por definição…);
2 -  a amante (maravilhosa, mas de que se cansa depressa..)
3 -  a amiga (confidente talvez, mas sem cama); assim uma espécie de fêmea assexuada …
4 - a concubina , aquela que se sujeita a tudo, porque não tem onde cair morta, e pode ser espezinhada e humilhada a seu belo prazer. 

Mesmo que o sultão já seja velho e “fora de prazo”, uma concubina é o prato ideal para o exercício do poder; meiga, submissa, pronta para tudo, provavelmente capaz de lhe afagar o “ego” da cintura para baixo, sem grandes exigências próprias, provavelmente capaz de lhe adoçar o estômago com petiscos e doces…

Pouco exigente… algumas nem sabem o que é o Viagra, coitadas… nem se preocupam com o prazer fisico, seu ou alheio. 

Contudo, nós não vivemos num sultanato, nem as sociedades modernas admitem esta hierarquia funcional. No entanto, lá no fundo, a cabeça de muitos homens ainda pensa assim… e classifica as suas “pseudo-companheiras-exploradas” de forma parecida. Com um embrulho mais moderno e menos chocante.
Contudo, é tão fácil (e humilhante) passar de amante para amiga, como é virar uma concubina em escrava.


Tristezas



Quando a tristeza se instala e nada nem ninguém me ajuda a varrê-la para fora do meu chão, o que fazer?

E quando não tenho sequer chão para pisar, quanto mais para varrer? 

O que fazer? O que fazer da solidão dos afectos, da incompreensão de quem poderia me querer bem, de quem me poderia ajudar e nem compreende o meu sofrimento? 

Perdida e só, na escuridão de uma noite acompanhada, que sentido faz viver assim.

Será uma depressão? Será simplesmente a tristeza, pura e dura, de um abandono anunciado? Será culpa minha, por ter uma sensibilidade à flor da pele… que não aguenta o desprezo e a frieza. Que não aceita o desamor…

Eu bem tento ser forte.

Eu tudo faço para me desdobrar em carinhos e alegrias, eu quero muito ser feliz, mas tenho uma enorme falta de jeito. 

Ou então não encontro a pessoa certa para me ajudar a nadar neste mar revolto e turbulento, em que me sinto naufragar.

Eu quero viver, quero mesmo… mas não sei como …

Eu tenho tanto para dar e ninguém para me receber .

Eu gosto de fazer os outros felizes, de amar, de dar beijos, abraços e sorrisos e depois… constato que de mim só pedem sopas… ou pior, só esperam silêncios bem comportados…

Silêncio e mais silêncio… renúncia de afecto, zero de amor… só presença decorativa e calada. Como se eu fosse uma coisa útil para mostrar, mas não gente. 

Eu sou uma pessoa, sinto que sou boa e que tenho muito para dar …

Mas nos dias em que não me lembram, nos dias em que se esquecem de mim e me desprezam, só porque não tenho nenhuma utilidade concreta e real, fico vazia, oca, amarga, lixo…

E então só sobra a raiva, a amargura … e quem está de fora, não vê a minha revolta. Não vê que a amargura é apenas um “sinal”, um sinal feio de falta de amor, uma reação inversa daquilo que eu gostaria de transmitir de bom .

Como se o amor e o ódio fossem a face da mesma moeda . E é a sorte ou o acaso que dita qual das faces fica ao de cima, quando se deita a moeda ao ar.

Não consigo transmitir afecto quando o coração dói tanto que se sobrepõe a tudo o mais, quando a magia acumulada vira amargura.

Tenho de aprender a fazer um reset. Apagar as mágoas e colocar no coração apenas sorrisos, apenas aquilo de que os outros gostam… para que gostem de mim.