sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Porque se ama a imperfeição?



Mesmo sabendo que a perfeição não existe e que sobretudo os humanos estão cheios de imperfeições visíveis, a todo o tempo, aos nossos olhos - treinados para avaliar, para pontuar e comparar tudo com ideais de beleza, bondade, amor perfeito e inteligência - reagem com desilusão ao confronto do ideal/desejado com a realidade defeituosa, irritantemente desadaptada da expetativa.

Quem aguenta desilusões e imperfeições no ser amado ou nos filhos queridos? Aguentar aguenta, mas fica triste.

Haverá heróis - seres superiores ou frios indiferentes - que tudo aceitam e se contentam com o que a vida lhes dá… conformam-se e adaptam-se. São mais felizes, esses…

Conseguem viver um dia de cada vez com alegria e tirar partido do melhor que o seu semelhante mais próximo lhe proporciona.

Não reclamam. Sorriem e vivem. 

E talvez seja essa a grande sabedoria.

Porque todos os dias contêm um potencial de pequenos momentos felizes e trazem em si a esperança de um futuro melhor, com gente melhor … mais perfeita.

Um caminho alcatruado, sem buracos nem pedregulhos a atrapalhar … um rumo linear e seguro, numa paisagem amorosa magnífica… 

Como se essa paisagem existisse na natureza e não fosse tão só construção humana.

 As pequenas desilusões diárias, recorrentes e implicantes devem ser aceites como um chuvisco que cai sem ser esperado num dia que, por azar, saímos de casa sem chapéu. Dizemos: que chatice! Deixa-me abrigar no toldo do café… há-de passar…

E no dia seguinte já não nos lembramos deste pequeno contratempo.

Se eu pudesse viver assim, tão descontraidamente os engulhos amorosos ou a falta de afecto que atrapalham as expetativas … seria bem melhor.

Esforçar-me-ei por amar a imperfeição porque só a verdade é libertadora. E o mundo, os homens, a natureza são imperfeitos face aos ideias racionais ou românticos , mas são perfeitos na sua diversidade.

Liberdade é assumir, dizendo alto o que se pensa sobre o bem e ou sobre mal, é estar cá para apanhar os cacos dos erros e para louvar as glórias dos êxitos. Dizer que se ama - sem adjetivar a perfeição ou a falta dela - é um acto de autonomia, libertação, leveza e alegria!