terça-feira, 25 de junho de 2019

O chão e a umbrela


Um chão e uma umbrela, o segredo do equilíbrio! Do que precisamos para ir seguindo o caminho da vida, com a sensação mesmo que utópica de segurança ...
A nossa passagem pelo mundo, tão fugaz e insegura, assemelha-se a um bailado de corpo nú, a um esvoaçar saltitante, um pé aqui e outro ali, meio pairante, sem raízes ou solidez terrena, quase um andar sem poisar...
E no entanto, queremos poisar, sim!
Procuramos ter sempre um chão. Ás vezes ele muda de sítio, mas a busca prossegue, há que ir andando pisando seriamente o solo, tentando não voar demais, porque a queda é certa. Somos humanos, terrenos e mortais... há que estar e parar, de pés bem assentes na vida, evitando corridas ao pé coxinho...
Por isso fazemos casas e famílias, criamos lares e relações , juntamos tribos de várias cores e finalidades - da bola à religião, da política à diversão ...
Sempre na ânsia de ter algo que agarrar. Para afastar a solidão procuramos um chão, um afago, uma mão ...
Precisamos de um chão que nos suporte o caminho e de um tecto que nos proteja. Asterix temia que o céu lhe caísse em cima...
Megalomano exemplo daquilo que todos tememos... que o desconhecido nos caia em cima e nos deixe vulneráveis, à chuva e ao vento do destino.
Há que cobrir as cabeças das intempéries, encontrar abrigo, procurar proteção, encosto e afeto.
É quando uma umbrela que protega da chuva nos faz falta, trazendo o doce invólucro da amizade. Que melhor coisa para nos proteger das tempestades da vida... senão uma umbrela de carinho e afeto, real e puro? Que melhor coisa saber que esta umbrela nada pede e tudo dá, desinteressadamente, só porque vale a pena encher de sol os dias de chuva e dar ainda um sorriso, apetecido prêmio. Só porque sim, só porque o tempo é curto e é bom viver. 
Sei que pode chover, mas não estarei perdida, solitária ou desamada, enquanto houver um sorriso e um chapéu à minha espera.
Uma umbrela que é um tecto e é um chão, o equilíbrio instável de uma trapezista de alma inquieta.